“No primeiro mês, viu saltar de cerca de R$ 300 mil para R$ 500 mil o valor a ser cobrado para o tratamento do lixo. Desconfiou que era maldade do Consórcio. Não, era incompetência da própria gestão, que não separou o reciclável do lixo comum”, aponta o jornalista Luciano Cléver
Confira:
Na época dos reclames, troava no rádio e na TV o bordão “O gerente endoidou”. Anunciava preços baixos de uma promoção que só se justificaria no caso de o gerente ter perdido a racionalidade.
Voltaram a usar frase em Sobral. Ou, pelo menos, sua paráfrase: o gestor endoidou. Não pode ser apenas falta de preparo, o que já mereceria um Oscar de defeitos especiais. Empurraram para debaixo do tapete vermelho o lixo, que a falta de experiência administrativa não soube tratar. E se alguém critica, vai ouvir os gritos: “Quem manda em Sobral sou eu!”.
Começou mal naquilo que catapultou Sobral para manchetes nacionais: a educação. Professores e educadores foram trocados simplesmente porque serviram à gestão anterior. O assuntou chegou à Folha de S. Paulo, onde uma colunista alertou que a Prefeitura poderia descontruir o legado educacional. Não custou a ter protesto de alunos e pais, como o que ocorreu na Escola Pe. Osvaldo, no Dom Expedito, logo no bairro que abriga a sede do Uninta. Em nota, a Secretaria da Educação disse que tomou conhecimento pelas redes sociais. Ainda bem que acompanha as redes.
Sobral é sede do Consórcio que reúne 19 municípios para tratamento dos resíduos sólidos. Três meses se passaram, e Sobral não tinha pago nenhuma de suas “mensalidades”. E passou pelo constrangimento de ver caminhões barrados no portão. Era a resposta ao calote, depois que, em vão, a prefeitura tentou na Justiça se isentar de suas obrigações. Só então, negociou a dívida. Mas o gestor agiu da pior forma.
Por ter mandado embora quem não devia, e ter colocado gente que nunca deu um prego numa barra de sabão no serviço público, a prefeitura cometeu barbeiragem. No primeiro mês, viu saltar de cerca de R$ 300 mil para R$ 500 mil o valor a ser cobrado para o tratamento do lixo. Desconfiou que era maldade do Consórcio. Não, era incompetência da própria gestão, que não separou o reciclável do lixo comum.
Diante do constrangimento provocado pelo calote, em vez de reconhecer seus atropelos, o gestor, que mal sabe jogar damas, tentou dar cartas, blefando como num jogo de pôquer, ou dobrando a aposta como no truco. Disse que o consórcio comete crime ambiental, e, por isso, Sobral, por decisão imperial sua, iria abandoná-lo. Loucura, loucura, loucura, diria Luciano, o Hulk. E eu também.
Não tem como, de uma hora para outra, arranjar um local para receber o lixo de Sobral. Mesmo se arranjasse, levaria tempo para conseguir uma licença para seu funcionamento, principalmente se já existe um consórcio com as demais prefeituras. E o custo seria maior. O prefeito, num argumento simplório, chegou a dizer que não se justificaria o custo de municípios distantes gastar com o transporte até Sobral. Não é o caso de seu município.
Há um ditado, mais antigo que o da época dos reclames, orientando a não falar em corda na casa de enforcado. A não ser que a iniciativa seja do próprio. Olha só quem quer posar de paladino da defesa ambiental. Oscar Rodrigues, segundo ele próprio, é recordista em reiteradas multas por crime ambiental.
Multas da AMA, do Ibama, da Semace. Somando, dá mais de 20 milhões de reais. Qual o crime do consórcio? Por que trata o lixo a céu aberto? Só especulação, sem embasamento técnico. Já os cometidos por seu grupo empresarial, e também do seu CPF, estão bem definidos. Entre outros, construção irregular no Cachoeiro, numa área do DNOCS; retirada indevida de areia do leito do Acaraú, e devastação de Mata Atlântica, no pé da serra da Meruoca.
Ao ser confrontado sobre as multas, alegou perseguição. E quis se (nos) fazer de abestado. Disse em entrevista ao radialista Beto Guerra (Coqueiros FM), que nem sabia da existência de Mata Atlântica no Ceará. Professor de Inglês, Matemática, Ciências, Educação Física, deve ter faltado às aulas de Geografia. Serra da Meruoca e Chapada da Ibiapaba, onde tem propriedades e negócios, são locais de Mata Atlântica.
Há um caso mais gritante. A Santa Casa vive uma enorme crise (e não é de agora), sofreu intervenção municipal na gestão anterior. Tem até uma CPI para fazer exploração política. O presidente da Câmara de Sobral, sobrinho do gestor, lançou uma campanha para sensibilizar os demais municípios a fazer doção de esmola para a Santa Casa. Enquanto isso, reparem bem, o município de Sobral reduziu o repasse para o hospital O gestor negou a redução: foi só um ajuste. Para baixo. O hospital foi glosado em um milhão e seiscentos mil reais.
Com inegável talento na área empresarial, o prefeito multibilionário é um fazedor de dinheiro. Louvável. Mas a dinâmica do serviço público é outra. O marco de 100 dias é curto para cobrar obras de impacto na sociedade sobralense. Até agora, só cosmética, vendida como “novos tempos”. Consiste na desobstrução de ruas centrais, com a retirada dos jarros, pintura de meio-fio, e vagas de estacionamento. Até a mudança do valor da zona azul foi uma briga para efetivar.
Há muitas pessoas competentes na Prefeitura, mas também muitos bajuladores no entorno, formando a bolha que a vaidade ajuda a inflar.
Há quem diga que o destempero, assim como o tremor nas mãos, que o impede, por exemplo, de ter firmeza para segurar uma xícara de café no Beco do Cotovelo, seria sintoma de Alzheimer, doença pela qual se aposentou na UVA, em 2009. Dizem que a bajulação agrava os sintomas. Talvez a resposta esteja numa frase atribuída a Eurípedes: “Os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir”.
Luciano Cléver
Jornalista.