“Jogava a nosso favor tudo — riquezas naturais, vasto território, imensas reservas minerais, solo fértil para a riqueza do agronegócio — menos o sistema político”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto.
Confira:
No pós-guerra, com a reorganização das relações econômicas e diplomáticas entre países de um mundo em guerra, abriam-se a países como o Brasil, dois destinos para a conquista do futuro.
O crescimento ordenado e progressivo, modelo Canadá e Austrália ou, como alternativa, a reprodução populacional incontida, de braços com a fome e a miséria, sob domínio de um Estado forte, como a Índia e alguns países latino-americanos.
Jogava a nosso favor tudo — riquezas naturais, vasto território, imensas reservas minerais, solo fértil para a riqueza do agronegócio — menos o sistema político e as instituições políticas, atrasadas, primitivas a reboque de um mundo em célere transformação, o Estado máximo, sob o controle das oligarquias e de setores de vocação autoritária e pouco sensível a ordenamentos essenciais compatíveis com uma democracia estável.
Do Canadá pouco mais exibimos do que algumas mostras de progresso mal distribuídas em uma sociedade carecida de instrução, de habilidades técnicas e científicas e de educação. Como se houvessemos optado pela condição de país dependente, como fomos até hoje.
Da Austrália, faltou-nos o esforço colonizador e civilizacional de gerações sucessivas de migrações, parte das quais proveniente do sistema carcerário inglês, porém armada de iniciativa e audácia, trazendo o prêmio do perdão e da liberdade para recomeçar as suas vidas nas novas terras conquistadas.
Com a consciência lacrada e as esperanças contidas pela ação expansionista de uma ideologia de Estado que alicia novas falanges de militantes, a vontade e o amor pela liberdade vai cedendo lugar e espaço ao ódio e ao medo, em uma aspiral descontrolada de intolerância, violência e submissão.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC