Perguntei aos queridos Stênio Gardel e Aline Bei sobre o medo da página em branco, que tanto trava os escritores e aspirantes. Sabe aquela sensação de “Pensei que era só eu que passava por isso”? Stênio Gardel, escritor premiado, autor da obra “A palavra que resta”, me deu um abraço com a sua resposta.
“É difícil a página em branco não ser um problema, mas em algum momento, acaba encontrando o horizonte do escritor. No meu caso, quando precisei mudar o final do meu romance “A palavra que resta” tive uma página em branco, já que o final original foi modificado, então eu acho que, é algo que pode acontecer”, explica Stênio Gardel.

Transformar chumbo em ouro
Na Bienal do mês passado, a escritora Andrea Del Fuego também abordou a temática. “Geralmente o bloqueio é o da ideia. A escrita é um processo alucinante de um impacto profundo, portanto, é um desperdício não escrever hoje. A insegurança é o cerne da questão. Eu não tenho segurança ao escrever, mas o selvagem e o indizível me seduzem. Nós leitores nem sabemos o que queremos ler e também não há garantia da publicação quando escrevemos. Quando um livro faz sucesso ele é a parte visível do movimento ascendente. O que sobra daquilo que eu gostaria de escrever é a escrita. Escrever de forma trepidante com obstáculos é um exercício absurdo, por isso, escrever é uma experiência artística e inigualável e o valor literário muda com o tempo”, reflete Andrea del fuego, escritora publicada em onze países, autora de nove livros, entre eles “Os Malaquias”, vencedor do Prêmio José Saramago.

“Eu sempre vi a página em branco como um palco e ele nunca me intimidou, pois eu o vejo como um lugar aquecido, que convoca uma espécie de temperatura, me seduzem e me interessam, não estão em um lugar de medo”, aponta Aline Bei, autora das obras “O Peso do Pássaro Morto” e “A Pequena coreografia do Adeus”, finalista do Prêmio Jabuti, na categoria Romance Literário, e do Prêmio São Paulo de Literatura.
A escritora, que também é atriz, orienta que, para evitar um desgaste desnecessário, é importante escrever algo que já existe em mente. “Eu só vou pra folha quando algo já existe em mim, quando é urgente escrever. Não vou ficar insistindo se o repertório não existir ainda em mim. O livro precisa já estar assentado na minha emoção para eu começar a escrever. O processo de escrita é um processo final”, aponta Aline Bei em entrevista concedida na Biblioteca Estadual do Ceará (BECE), na ocasião do 4 Colóquio organizado pelo equipamento.
