“O monopólio de Deus e a desarmonia de uma grande família de semitas intransigentes” – Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor e escritor, além de ex-reitor da UFC.

Com o título “O monopólio de Deus e a desarmonia de uma grande família de semitas intransigentes”, eis artigo de Paulo Elpidio de Menezes Neto. “Árabes descendem de Ismael, judeus de Isaac, ambos filhos de Abraão. Enfrentam-se há 2 000 anos pelas areias do Oriente Médio. Vivem e nutrem os seus ideais de uma luta que levará os litigantes, segundo velha crença, ao reino do Céu”, expõe o articulista

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O Acordo traz, com as parcas esperanças de uma paz duradoura, a marca de um adiamento renovado.

Estrategicamente, do ponto de vista militar, o Hamas conseguiu o que pretendia. A troca de pouco mais de 100 judeus sequestrados e de duas centenas de desaparecidos, por 2 mil guerrilheiros, espiões e terroristas presos em Israel em cumprimento de penas severas, não parece ter sido um bom negócio. Lembra querela infindável entre mercadores de camelos, cada qual dos negociadores querendo arrancar vantagem um sobre o outro.

Não fosse o lado humanitário que move Israel a aceitar as condições negociadas, que lhe são desfavoráveis, a celebração do “Acordo” selaria uma rendição branca em nome de um Estado palestino, sob dominação do Hamas.

A Palestina, como território e nação, seria uma solução desejável na configuração de um Estado soberano por aqueles lugares pletóricos de vizinhança guerreira. Seria, não fosse a consciência consolidada em dois milênios de contraposição de direitos e expectativas de ter e impor aos infiéis o seu deus.

Por trás de toda essa encenação oportunista de Trump, aflora o ódio ancestral entre árabes e judeus, muçulmanos e cristãos, islamitas e judeus. E a busca do reconhecimento do mundo pelo gesto largo que lhe poderia valer a compensação do Nobel da Paz deste ano…

Velhas e irreconciliáveis pendências de questões de fé indispõem e armam esses “levantinos”, semitas na base de uma composição étnica. Afinal, são filhos de uma mesma família, mergulhados em uma guerra santa interminável pela afirmação do privilegio de serem o “povo eleito”.

Árabes descendem de Ismael, judeus de Isaac, ambos filhos de Abraão. Enfrentam-se há 2 000 anos pelas areias do Oriente Medio. Vivem e nutrem os seus ideais de uma luta que levará os litigantes, segundo velha crença, ao reino do Céu.

De confissão monoteísta, árabes e judeus disputam a primazia de seguirem um Deus “verdadeiro”, circunstância que torna esses povos fieis às suas crenças e ao monopólio da Verdade no campo incerto da divindade a que se submetem.

A conciliação entre parentes brigados é um gesto improvável, vemo-lo no quotidiano das nossas vidas. Primos disputam a posse do Céu desde que se formou a autoridade dos patriarcas ao correr de tantas vicissitudes.

Os embarcadiços de Greta e Luiziânia são, estes, sim, beneficiários desta campanha náutica memorável pelo Mar Morto. Nem Ulysses faria melhor, amarrado ao mastro da sua galeota, imune ao canto sedutor das sereias..

*Paulo Elpído de Menezes Neto

Cientista político e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará.

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