Quando entrei naquela casinha de taipa do sertão cearense, não enxerguei mobília alguma. Vi apenas dois rotos bancos de madeira, duas redes velhas amarradas por cordas e, ao fundo, um arremedo de cozinha com alguns tijolos servindo de base para o fogão à lenha. Era o dia 23 de dezembro, e aquela fora a última das 70 cestas de alimentos que entregamos nos arredores de um assentamento, em Canindé-CE.
À direita vi um esquelético galho seco enfiado numa lata com areia, cuja decoração fora feita com tiras de garrafas “pet” vermelhas e verdes imitando flores no lugar das tradicionais bolas natalinas. Ao lado, um cachorro esquelético dormia tranquilamente.
Ainda nesse minúsculo ambiente figuravam diante de nós os donos da casa, uma jovem com gravidez avançada ao lado do seu marido, ambos murchos de fome. Mesmo naquela situação a família celebrava o Natal e para mim o cenário simbolizava uma “manjedoura de esperança”.
Naquele momento, lembrei-me de que minha mãe me ensinara a enxergar nos mais pobres o próprio Cristo. Porém, ali encontrei toda a família de Nazaré excluída de uma sociedade consumista e egoísta. A desnutrição era evidente na Maria, no José, no cachorro e com certeza no Jesus por nascer.
Contemplando aquela árvore miserável, experimentei viver um Natal diferente… E não pude conter a emoção.
Francisco Caminha é ex-deputado estadual