“Em Hollywood, tropas ideológicas acamparam para dar combate ou celebrar o filme brasileiro. Muitos dos combatentes sequer assistiram ao filme”, aponta o cientista político e escritor Paulo Elpídio de Menezes Neto
Confira:
“O diabo pode citar as Escrituras, quando isso lhe convém”, Shakespeare
O Oscar, os tapetes vermelhos da Academia e os “eleitores” espalhados mundo afora enfrentam uma batalha campal ideológica sem precedentes.
O talento de Selton Mello e de Fernanda Torres não está “sub judice”. São artistas, atores e dramaturgos consagrados.
O filme, “Ainda estou aqui”, não é só teatro, arte dramática ou exercício estético. Conta uma história, “reconstrói” versões acumuladas nas gavetas da história política do País, enfrenta versões díspares, contestadas, Na política, a verdade é transitória, ganha a velocidade de contrapontos incontornáveis e sempre se renova.
Parece óbvio que, por tratar-se de construção espelhada em fatos históricos controvertidos, muitas das versões reconhecidamente verdadeiras, poderiam despertar a crítica de vigilantes ideológicos que os há nos campos da inteligência em constante mutação.
Em Hollywood, tropas ideológicas acamparam para dar combate ou celebrar o filme brasileiro. Muitos dos combatentes sequer assistiram o filme; outros, sentaram-se defronte da telona, armas em punho, para defender este símbolo recente da cultura política brasileira.
O Oscar ganhou ringue e arena. Exibe as duas caras de Juno, voltadas para a direita e para a esquerda, memória e oráculo dos feitos dos homens.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC