Com o título “O ovo caro de cada dia”, eis artigo de Marcos C. Holanda, professor da Universidade Federal do Ceará, fundador do IPECE e ex-presidente do Banco do Nordeste. “Na verdade, temos um problema maior que é a inflação dos alimentos. Em fevereiro, o preço da cesta básica em Fortaleza subiu 1,47% e temos a cesta básica mais cara do Brasil. A inflação da cesta básica foi, em um mês, a metade da meta de inflação anual do Brasil, que é de 3%”, expõe o articulista.
Confira:.
Interessante como o ovo tem dominado o debate econômico. Acho que por dois motivos principais, faz parte do dia a dia de todos, pobres, ricos, milionários e porque subiu muito de preço. Mesmo que pare de subir, vai continuar caro e criando desgaste para o governo.
O ovo ficou caro por uma combinação de fatores. Antes de mais nada, precisamos entender o que é uma commoditie como é o caso do ovo. Commodities são produtos padronizados, transacionados em todo o mundo e, por conta disso, cotados em dólares. Em sendo um produto seu, preço é definido pela oferta e demanda com um detalhe importante: as mesmas são globais e não locais. Um grande erro é argumentar que, como a produção é local e os custos são em reais, o ovo não pode ser cotado em dólares. Se você é produtor e tem demanda global que paga em
dólares, jamais, de forma voluntaria, vai abdicar desse mercado.
O ovo no Brasil ficou caro porque a demanda externa aumentou, principalmente por conta de problema de gripe aviaria nos Estados Unidos, os custos dos insumos
aumentaram e o câmbio desvalorizou. Uma tempestade perfeita. De nada adianta zerar a tarifa de importação, somos exportadores e não importadores, ou o ICMS. No melhor cenário, ele vai parar de subir, mas, vai continuar caro e só a médio prazo, com o aumento da oferta, vai começar a cair. Lembrando que a demanda por ele é inelástica, pois é difícil sua substituição. Café da manhã, bolo… omelete sem ovo?
Na verdade, temos um problema maior que é a inflação dos alimentos. Em fevereiro, o preço da cesta básica em Fortaleza subiu 1,47% e temos a cesta básica mais cara do Brasil. A inflação da cesta básica foi, em um mês, a metade da meta de inflação anual do Brasil, que é de 3%.
Aqui um grande problema: inflação sempre prejudica os mais pobres, mas a inflação do alimentos é ainda mais cruel. A inflação dos alimentos está rodando na faixa dos 8-10%, o triplo da meta de inflação e precisa ser enfrentada. O perigo aqui são remédios que não funcionam e apenas servem para propaganda ou cujos efeitos colaterais são piores que a doença. Apenas como exemplo, reajustar o Bolsa família em 10% reporia a perda das famílias, mas, muito provavelmente, desvalorizaria o câmbio, que aumentaria ainda mais os preços e pressionaria para cima os juros.
Também na economia o segredo é o diagnostico certo e o remédio que combate a doença e não apenas anestesia o paciente.
*Marcos Holanda,
Professor da UFC , ex-presidente do Banco do Nordeste e fundador do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado do Ceará (Ipece).