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O Papa e o Oriente Médio

Paulo Henrique Arantes é jornalista

O Papa Francisco é em tese o líder de 1 bilhão de fiéis – os católicos do planeta. No Brasil, onde mais de 60% da população se afirmam católicos – algo em torno de 120 milhões de pessoas – o carisma, a preocupação social e a visão progressista do mundo de Jorge Bergoglio incomodam os “católicos” que entendem a religião como um arcabouço para defesa de valores conservadores, valores aferrados a uma moral que abomina as diferenças e impõe-se para preservar uma brutal desigualdade.

Francisco define suas prioridades a partir de um olhar para as injustiças do mundo – e não existe injustiça maior do que a fome e a guerra, a primeira não raramente provocada pela segunda. O olhar do Papa neste momento está no Oriente Médio, onde Israel extermina civis sem piedade.

“Eu imploro que parem em nome de Deus: cessem o fogo”, conclamou o Pontífice, num recado óbvio a Israel, não sem antes pedir a libertação dos reféns pelo Hamas. Ele também manteve uma conversa privada com o presidente palestino Mahmoud Abbas.

A influência e a abrangência da Igreja Católica, que não se limitam a seus seguidores declarados, não podem simplesmente privilegiar este ou aquele Estado, mas a vida humana. A mensagem cristã, especialmente em sua versão católica, tem alcance universal e aplica-se a todos os seres humanos – governantes, governados, abastados e carentes -, incluídos muçulmanos e judeus.

O Século XXI abriu suas portas à Igreja Católica para que fosse protagonista da paz por intermédio de Jorge Bergoglio, homem talhado a trazê-la para a contemporaneidade. Há que se acreditar na honestidade de princípios do Papa Francisco, ainda que personalidades obscurantistas apontem mero marketing “esquerdista” em suas posições. Na verdade, o que incomoda essa gente é sua disposição para espanar certos dogmas medievais incrustados no Vaticano – luta que não terá fim em seu pontificado.

Não se deve cobrar de Francisco que mova a Doutrina Católica em 180 graus. A observância literal do Concílio Vaticano II já constitui significativo avanço. Na Carta Encíclica Pacem in Terris, que integra aquele Concílio, Angelo Roncalli, o Papa João XXIII, escreveu: “O progresso da ciência e as intervenções da técnica evidenciam que reina uma ordem maravilhosa nos seres vivos e nas forças da natureza. Testemunham, outrossim, a dignidade do homem capaz de desvendar essa ordem e de produzir os meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito”.

Paralelamente a medievalismos que se cogitavam superados no Século XXI mas que ainda vigoram – abunda hoje uma gente que questiona a eficácia de vacinas! -, há a guerra. Há guerras! Francisco não tem poderes diplomáticos ou sobrenaturais para demover um Netanyahu ou um Biden de suas decisões genocidas, mas ao manifestar-se contra o horror comove boa parte do globo, e a indignação coletiva surte efeitos. Não nos esqueçamos de que um Papa fez vista grossa ao Holocausto no passado – a Igreja Católica está bem melhor hoje com Francisco.

Paulo Henrique Arantes é jornalista

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