“Muitas mulheres sofreram abusos psicológicos e físicos, torturas sexuais e a privação de seus filhos”, aponta a deputado estadual Larissa Gaspar
Confira:
A história da resistência à ditadura militar no Brasil (1964-1985) é marcada por coragem, sacrifício e uma luta incansável pela democracia. Entre os muitos protagonistas desse período, destacam-se as mulheres, que, além de enfrentarem a violência do regime, ainda lidavam com o peso do machismo estrutural em uma sociedade que tentava silenciar suas vozes.
Desde a prisão e tortura de ativistas até o exílio e a morte de tantas que ousaram enfrentar o autoritarismo, a trajetória dessas mulheres é um capítulo essencial da memória política nacional. Nomes como Iracema Serra Azul da Fonseca, Helena Moreira Serra Azul e Maria do Carmo Moreira Serra Azul são exemplos de como a repressão atingia não só os militantes, mas também suas famílias, incluindo crianças que foram sequestradas pelo Estado.
A violência de gênero foi uma marca cruel da repressão. Muitas mulheres sofreram abusos psicológicos e físicos, torturas sexuais e a privação de seus filhos. Casos como os de Crimeia Schmidt de Almeida, que foi torturada mesmo estando grávida, e de Ilda Martins da Silva, viúva de Virgílio Gomes da Silva, presa com três filhos pequenos, evidenciam o nível de brutalidade do regime.
Além da luta armada e da militância clandestina, as mulheres também atuaram na organização de movimentos sociais e na preservação da memória histórica. Zuzu Angel, estilista internacionalmente reconhecida, tornou-se um símbolo da busca por justiça ao denunciar o assassinato de seu filho, Stuart Angel, pelo regime. Clarice Herzog, após o assassinato de seu marido, Vladimir Herzog, tornou-se uma das principais vozes pela responsabilização dos torturadores.
Nos campos e fábricas, mulheres como Elizabeth Teixeira e Margarida Alves desafiaram os poderosos latifundiários e denunciaram a violência contra os trabalhadores rurais. No meio acadêmico, professoras como Ana Kucinski e Iara Iavelberg foram perseguidas, desaparecidas ou assassinadas pelo regime.
A resistência dessas mulheres não apenas contribuiu para a queda da ditadura, mas também inspirou gerações futuras na luta pelos direitos humanos, pela igualdade de gênero e pela democracia. Muitas delas continuam sendo esquecidas pela história oficial, mas suas trajetórias devem ser constantemente lembradas para que atrocidades como as cometidas pela ditadura nunca mais se repitam.
A anistia política de 1979 representou um passo para a reconstrução da democracia, mas a impunidade dos crimes cometidos pelo regime militar ainda é uma ferida aberta. Mulheres como Eunice Paiva, Maria Amélia Teles e Miriam Duarte Pereira seguiram exigindo justiça, impedindo que os horrores da ditadura fossem varridos para debaixo do tapete.
O Brasil tem uma dívida histórica com essas mulheres. Não basta reconhecê-las como vítimas; é preciso garantir que sua luta continue servindo de exemplo para as novas gerações. Relembrar o papel das mulheres na resistência à ditadura é um compromisso com a verdade, com a justiça e com a democracia que tantas delas ajudaram a reconstruir.
Larissa Gaspar é deputada estadual (PT) e 2ª vice-presidente da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece)