“O papel do professor em um mundo em transformação” – Por Cleyton Monte

Cleyton Monte é cientista político, pesquisador e presidente do Centec. Foto: Arquivp Pessoal.

Com o titulo “O papel do professor em um mundo em transformação”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, presidente do Instituto Centec e, também, professor. “Ensinar, hoje, é insistir em que nenhuma tecnologia substitui o encontro entre pessoas. É nesse espaço, frágil e potente, que a educação mantém viva a possibilidade de futuro”, expõe o articulista.

Confira:

Vivemos um tempo em que as mudanças tecnológicas avançam mais rápido do que nossa capacidade de compreendê-las. A inteligência artificial, as plataformas digitais e as novas formas de trabalho remodelam o cotidiano e impõem à educação o desafio de dar sentido a um mundo em constante mutação. Nesse contexto, o papel do professor volta a ser central: qual sua função em uma sociedade que parece dispensar a mediação humana?

A educação sempre foi mais do que a simples transmissão de conteúdos. É o espaço onde uma sociedade define o que considera saber e quem tem legitimidade para ensiná-lo. Hoje, essa escolha é mediada por algoritmos e métricas que filtram o conhecimento e moldam as práticas pedagógicas. O discurso da inovação, vendido como progresso, muitas vezes oculta a mercantilização da educação e o controle sobre o trabalho docente. As plataformas prometem personalização, mas impõem uniformidade; anunciam autonomia, mas limitam a criação. Sob a aparência da eficiência, o professor é empurrado para o papel de executor de sistemas, enquanto o aprendizado se converte em produto mensurável.

Paulo Freire advertia que toda tecnologia carrega um projeto de sociedade. Ao pensar a educação como prática de liberdade, defendeu que ensinar é também um ato de escuta, diálogo e crítica. Diante da expansão da inteligência artificial, sua lição se torna urgente. Se as máquinas aprendem com dados, os humanos aprendem com sentidos. Se os algoritmos classificam, os professores problematizam. É nessa diferença que reside a força política do ato educativo e a razão pela qual a presença humana é insubstituível.

A lógica empresarial que se infiltra na escola transforma o ensino em gestão de desempenho. As métricas substituem o diálogo; os indicadores substituem a escuta. Resistir a essa lógica não é rejeitar a tecnologia, mas disputar seu sentido. A questão não é se devemos usá-la, mas sob quais princípios. Se for para ampliar a autonomia, democratizar o conhecimento e fortalecer o pensamento crítico, ela terá valor pedagógico. Se for apenas instrumento de vigilância e padronização, servirá à precarização e não à emancipação.

O papel do professor, portanto, é político e ético. Cabe-lhe garantir que a escola continue sendo espaço de diálogo e consciência. Como ensinou Freire, educar é um ato de amor e coragem — amor que humaniza, coragem que liberta. Ensinar, hoje, é insistir em que nenhuma tecnologia substitui o encontro entre pessoas. É nesse espaço, frágil e potente, que a educação mantém viva a possibilidade de futuro.

*Cleyton Monte

Cientista político e presidente do Instituto Centec.

COMPARTILHE:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Email

Uma resposta

  1. Orgulho em trabalhar com um profissional tão comprometido com o ensino. Professor Cleyton Monte!

Mais Notícias