Com o título “O Piloto, as Rúpias e a Diversificação: Por que Investir no Exterior?”, eis artigo de Davi Montenegro, PhD, CFA, Portfólio Manager de ações globais. “É praticamente impossível achar um gestor de ativos que recomende ao nosso piloto fictício guardar suas reservas em rúpias indianas. O mesmo pensamento vale para qualquer investidor brasileiro, independentemente do valor que dispõe para aplicar”, expóe o aticulista.
Confira:
Um piloto brasileiro recebe uma proposta tentadora: voar pela Air India com salário equivalente a 2 milhões de dólares por ano pelas cotações atuais. Como seria de se imaginar, o contrato prevê pagamento em rúpias indianas. Sendo seu custo de vida muito menor que o generoso salário novo, o piloto depara-se com o seguinte dilema: investir o dinheiro excedente em rúpias, por exemplo comprando títulos do tesouro indiano, ou comprar dólares e investir em ativos nos Estados Unidos e outros países? E se o piloto da história fosse indiano e tivesse conseguido um contrato parecido na Gol ou Latam, qual seria a conclusão à qual ele teria chegado quanto ao que fazer com o dinheiro excedente?
Os gestores de ativos sabem que não faltam razões para diversificar a exposição ao Brasil. Ele representa menos de 2% do PIB global e cerca de 1% da capitalização mundial das bolsas. Nossa economia é instável, a política imprevisível e nossa bolsa de valores muito concentrada em bancos e commodities. Enquanto isso, lá fora estão gigantes como Apple, Microsoft, Google, Amazon e Nvidia, empresas que moldam o futuro em tecnologia, saúde e inovação. Pelo lado da moeda, o real, assim como a rúpia indiana, não é uma moeda forte. Em 2008, um dólar custava menos de R$ 2. Hoje, ele oscila em torno de R$ 5 ou R$ 6. Quem poupou apenas em reais nos últimos 15 a 20 anos viu sua capacidade de compra internacional diminuir drasticamente. A importância de diversificar investimentos se dá, portanto, tanto pelo lado dos ativos disponíveis para se investir quanto o da exposição a uma moeda forte. Em uma conclusão análoga àquela que o piloto brasileiro deve ter chegado, faz todo o sentido um investidor brasileiro comprar dólares e investir em ativos fora do Brasil.
Mas como acessar esse universo? Hoje isso é um problema muito mais simples de resolver que outrora. Uma opção é abrir uma conta em uma corretora local e comprar BDRs na B3, que são instrumentos que representam ações de empresas estrangeiras. Além disso, tendo diversificação em mente, é também possível investir em ETFs internacionais a partir do mercado local, por exemplo num ETF que replica o principal índice do mercado de ações americanas, o S&P 500. Outra alternativa é aplicar em fundos de ações ou títulos de dívida globais oferecidos por bancos e corretoras. E, claro, a abertura de conta em corretoras estrangeiras para acesso direto aos mercados internacionais foi bastante simplificada na última década. Hoje em dia, mesmo aportes pequenos podem ser direcionados a ativos internacionais, servindo como uma espécie de seguro contra crises locais e desvalorizações cambiais.
É praticamente impossível achar um gestor de ativos que recomende ao nosso piloto fictício guardar suas reservas em rúpias indianas. O mesmo pensamento vale para qualquer investidor brasileiro, independentemente do valor que dispõe para aplicar.
Por curiosidade: se você pudesse guardar apenas uma mala hoje para dar ao seu filho ou filha daqui a 15 anos, a primeira contendo 1 milhão de dólares e a segunda 10 milhões de reais, qual das duas você escolheria?
*Davi Montenegro
PhD, CFA, Portfólio Manager de ações globais.