“Palavras são sementes. Algumas florescem, outras sufocam”, aponta o empresário Maurício Filizola
Confira:
Sentado na calçada, um homem segurava um pedaço de papelão com letras trêmulas escritas a lápis: “Sou cego, por favor, me ajude.” O vento soprava indiferente, as pessoas passavam apressadas, os olhos desviavam, e o barulho das moedas que, vez ou outra, caíam ao lado dele era um som raro.
O dia seguia, e ele permanecia ali, invisível. Até que, em um momento inesperado, passos suaves se aproximaram. Uma mulher parou diante dele. Não disse nada. Apenas pegou o cartaz, virou-o e escreveu algo novo. Depois, devolveu-o ao seu lugar e partiu.
Os minutos se passaram, e o inacreditável aconteceu. O tilintar das moedas se tornou constante. Algumas pessoas não apenas deixavam dinheiro, mas paravam por um instante, olhavam para ele com algo diferente nos olhos. O homem, sentindo a mudança, não conteve a curiosidade, ao perceber novamente aquela mulher voltar e parar a sua frente, perguntou:
— O que a senhora fez com o meu cartaz?
— Escrevi o mesmo que estava antes — respondeu a voz gentil —, mas com outras palavras.
E assim ela leu o cartaz para ele: “É um belo dia e eu não posso vê-lo.”
Uma frase tão simples, mas que despertava algo nas pessoas. Em vez de apenas constatar uma condição, agora as palavras tocavam o coração, provocavam empatia, traziam à tona a própria sorte dos que liam. O sol estava brilhando, os pássaros cantavam, a vida acontecia em sua grandiosidade. E ele não podia ver.
Aquele pequeno ajuste no texto não mudou a realidade do homem, mas mudou a forma como os outros o percebiam.
E quantas vezes fazemos o contrário? Quantas vezes usamos palavras que nos limitam, que nos diminuem, que nos aprisionam? Dizemos “eu nunca consigo”, “sou um fracasso”, “não sou bom o suficiente”. Criamos muros ao nosso redor sem perceber que poderíamos estar construindo pontes.
Palavras são sementes. Algumas florescem, outras sufocam. Palavras são remédios. Algumas curam, outras ferem. Palavras são destinos. Elas podem nos levar a lugares que jamais imaginamos ou nos prender em escuridões sem saída.
No fim do dia, o homem segurava o cartaz como quem segura um tesouro. Não havia ganhado apenas moedas, mas uma lição. E talvez, sem saber, aquela mulher tenha lhe dado algo ainda maior do que dinheiro.
Talvez ela tenha lhe dado um novo jeito de ver o mundo.
Maurício Filizola empresário diretor Sincofarma