Com o título “O Poder dos Elogios ou das Críticas?”, eis artigo de Ernesto Antunes, administrador, consultor de empresas e escritor. “Na vida pessoal, não é diferente, e nós precisamos acreditar que somos fortes e podemos muito mais, independentemente dos aplausos recebidos”, expõe o articulista.
Confira:
Em recente encontro com amigos da época do Colégio 7 de Setembro, um assunto envolveu todos os participantes em um salutar e rico debate. Falávamos sobre o que era mais importante na vida das pessoas, em relação aos impulsos e estímulos que necessitamos em nossa trajetória, onde, em algumas situações, somos elogiados e, em outras, podemos ser criticados.
Para alguns especialistas no assunto, o elogio pode ter o poder transformador de fortalecer a autoestima, a motivação e o bem-estar de quem o recebe, além de melhorar a conexão, a empatia e o clima entre as pessoas. Para outros autores, a crítica construtiva pode mexer e estimular a capacidade de resolução de problemas, incentivando a ação e tornando as pessoas mais produtivas e proativas. Em outras situações, pode ter um efeito de desgaste emocional, se não for bem internalizada e aceita.
Baseada nesses conceitos, uma das participantes do referido encontro afirmou que sente falta de elogios e reconhecimentos em seu ambiente corporativo, e que isso tem desencadeado uma grande desmotivação no seu trabalho, a ponto de não se empenhar o suficiente pelos resultados a serem entregues. Na ocasião, retruquei e disse que procuro agir exatamente ao contrário, pois, independentemente de elogios ou críticas, procuro agir de acordo com a minha autocrítica e consciência, já que o objetivo é sempre fazer o meu melhor. Frequentemente percebo que algumas pessoas necessitam de plateias para atuarem motivadas no campo pessoal ou profissional, e que essa dependência por elogios e/ou "tapinha nas costas" pode prejudicar sobremaneira o
desempenho desses indivíduos, porque esquecem que a autorrealização é mais importante do que os aspectos externos.
Para a especialista em Recursos Humanos, Graça Batista, “atualmente os processos seletivos buscam identificar, nos candidatos, aspectos ligados à elevada autoestima e capacidade de autorrealização, inclusive em ambientes que exigem grande poder de superação, resiliência e atitude, nos quais o profissional se torne o senhor dos resultados auferidos, independente da
função”. Isso mostra que, independentemente de fatores externos, os novos atores precisam saber qual é a sua missão, mesmo sem incentivos alheios. Ainda na discussão em grupo, um amigo da época de colégio confirmou que, nesse período, preferia as críticas construtivas que recebia dos pais, professores e pessoas próximas, pois surtiram muito mais efeitos do que certos elogios, já que mostravam para ele a necessidade de melhorar e evoluir. Ele relatou que essas críticas geraram um grande impacto na sua vida, inclusive quando um professor do ginásio disse: “Você atualmente é o pior aluno da sala em termos de nota, e se você não acordar, será uma pessoa medíocre na sua vida.” Segundo afirmou, esse ensinamento, ou crítica, mudou a sua vida, pois sabia que precisava alterar sua conduta, já que, nesse seletivo e competitivo mundo, não existe espaço para mediocridade.
Atualmente, esse senhor sexagenário é um médico renomado em todo o Brasil, sendo especialista em sua área de atuação e convidado, eventualmente, para palestrar até fora do país. No final da conversa, ele complementou, afirmando: “Aquelas críticas que recebi foram entendidas e aceitas. Hoje, recebo muitos elogios pelo que faço e, mesmo assim, eles não balizam nem alteram minha
forma de agir, pois aprendi que quem realmente sabe da minha capacidade sou eu.”
Esse relato prova que cada indivíduo tem sua forma de enxergar e reagir a esses impactos positivos ou negativos, em relação aos comentários sobre si mesmo. Para uma das presentes ao encontro, uma renomada psicóloga comportamental, “pessoas que necessitam de elogios constantes podem ter uma autoestima frágil e uma dependência de validação externa, buscando aprovação e reforço emocional de fora para se sentirem bem consigo mesmas”. Essa constatação torna-se perigosa para essas pessoas, principalmente porque, no mundo corporativo, os atuais chefes não têm tempo
ou disposição para reconhecer o bom trabalho realizado. Tudo isso virou uma obrigação, e a meritocracia profissional atua com metas e resultados, onde tudo se tornou uma grande rotina.
Uma amostra dessa realidade é uma frase afixada em um mural de uma grande empresa em Fortaleza: “Eu cuido do meu resultado e você cuida do seu.”
Na vida pessoal, não é diferente, e nós precisamos acreditar que somos fortes e podemos muito mais, independentemente dos aplausos recebidos.
No final do encontro e dos acalorados questionamentos, complementei, relatando que não considero os elogios físicos importantes, pois a beleza é efêmera e passageira, preferindo os elogios pelos conteúdos e ações bem realizados, ou críticas embasadas. Como dizia o escritor americano Norman Vincent: “O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados com elogios do que ser salvos pela crítica.” Talvez sim, talvez não!!!
*Ernesto Antunes
Administrador, consultor de empresas e escritor.