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“O poder político é efêmero”

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “O poder político é efêmero”, eis artigo de Djalma Pinto, jurista, ex-procurador-geral do Estado e escritor. “Para que a próxima geração de governantes não seja pior do que a de seus antecessores, o único caminho é a transmissão de bons exemplos pelos ocupantes do poder”, expõe o articulista.

Confira:

Patrimonialismo, fisiologismo e corrupção muito contribuem para a pobreza de qualquer povo. Agravam a desigualdade que pode, porém, ser eficazmente combatida. Para isso, é essencial a conscientização de que somos iguais. Nascemos e morreremos, inexoravelmente, após curta passagem pela terra, sem dela levar nada do que aqui foi conquistado. O silêncio e a paz, reinantes em todos os cemitérios, comprovam a essência de nossa igualdade, reiterada pela insignificância de cada um diante da força implacável do tempo. O segredo para a harmonia social reside na maior atenção à infância. Nela, as virtudes da justiça e da solidariedade, quando cultivadas, projetam bons cidadãos, que jamais ameaçarão a liberdade e a vida de seus semelhantes.

Para a infância constituir-se no primeiro passo para a prosperidade, muito valerá a colaboração dos pais, o permanente incentivo dos educadores e o estímulo dos grupos formadores de opinião. Também contribuirão, para a concretização mais célere da cultura de apreço pelos valores éticos, a percepção dos homens públicos sobre a importância da educação no ensino fundamental e a compreensão de que a única finalidade da delegação do poder político, recebido do povo por meio de eleição, é servir à sociedade. Ao colocarem o interesse da coletividade acima do seu interesse particular, os agentes políticos oferecem exemplos fecundos aos jovens que, em breve, os sucederão nos respectivos cargos.

Montesquieu, na sua obra clássica, O Espírito das Leis, publicado em 1748, percebeu isso, ao escrever: “É no governo republicano que se precisa de todo o poder da educação. A virtude política é uma renúncia a si mesmo, que é sempre algo muito difícil. Podemos definir essa virtude: o amor às leis e à pátria. Este amor, que exige que se prefira continuamente o interesse público ao seu próprio interesse, produz todas as virtudes particulares, elas consistem apenas nesta preferência. […] Assim, tudo depende de introduzir este amor na república; e é em inspirá-lo que a educação deve estar atenta. Mas existe um meio seguro para que as crianças possam tê-lo: que também os pais o tenham. Não é a nova geração que degenera; ela só se perde quando os adultos já estão corrompidos.”

Para que a próxima geração de governantes não seja pior do que a de seus antecessores, o único caminho é a transmissão de bons exemplos pelos ocupantes do poder. Sem isso, o fracasso de todo e qualquer povo será sempre um recomeço sob nova direção.

As pessoas, pela desinformação sobre a finalidade do poder político, por não refletirem sobre a sua transitoriedade na terra e pela certeza da impunidade, o utilizam para maximizar o seu egocentrismo, corrompendo-lhe o exercício e legando exemplos degradantes para a posteridade.

Os governantes de qualquer povo, no mundo contemporâneo, representam a síntese dos acertos e desacertos dos seus antepassados. Silenciosamente, as boas e as más ações na gestão do poder se incorporam na cultura dos governados. Por isso, nada mais nocivo para uma sociedade do que a conivência com a impunidade de seus líderes. Ela estimula a propagação das distorções, motivando os infratores sem expressão social a exigirem isonomia para não suportarem a sanção pelos seus crimes.

A tirania no exercício do poder faz escola. O temor a que submetidas as pessoas elimina a sua capacidade de crítica. Nas gerações assim moldadas, uns se destacam pela audácia de impor-se, com mão de ferro, à cidadania ao investirem-se no poder, outros, contaminados pelo medo do autocrata, passam a considerar normal a perda da sua liberdade e da própria dignidade.

Toda nação para alcançar a prosperidade precisa ser conduzida por indivíduos com a compreensão de que o poder é efêmero. Seu maior ocupante deve ter consciência de ser ele próprio um potencial educador, podendo contribuir de forma muito significativa com a missão relevante atribuída àqueles que exercem o magistério. Por isso, os bons exemplos de quem governa estimulam homens e mulheres a cultivarem a grandeza de espírito, impulsionadora da prática de ações edificantes, que geram prosperidade para todos e felicidade para quem as pratica.

*Djalma Pinto,

Advogado, autor de diversos livros, entre quais Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto; Ética na Política e Distorções do Poder.

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