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“O processo de marxistização da Igreja Católica no Brasil” – Por Barros Alves

Barros Alves é jornalista e poeta

“A Teologia da Libertação nasceu no contexto de países com grandes desigualdades sociais e ditaduras autoritárias”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves

Confira:

Tenho relido alguns livros sobre Teologia da Libertação e a nefasta influência dessa pseudo-teologia (para Ratzinger, apenas sociologia) na Igreja Católica do Brasil. Uma verdadeira “fumaça de Satanás”, (crédito para São Paulo VI) que se espargiu sobre os altares. Ao final listo algumas obras.

A emergência da Teologia da Libertação na América Latina, nas décadas de 1960–1980, criou um dos mais controversos movimentos dentro da Igreja Católica moderna. Nascida da combinação entre o compromisso evangélico pelos pobres e análises sociais influenciadas por ciências sociais, a corrente misturou-se de forma explícita, com categorias analíticas advindas de autores marxistas, tais como análise de classes, crítica das estruturas de poder, ênfase na prática libertadora revolucionária, ausência de Deus como senhor da história. Esse entrelaçamento teórico-prático abriu caminho para um diálogo promíscuo com lutas sociais de caráter revolucionário, e suscitou críticas vigorosas quanto ao uso instrumental de categorias marxistas que definitivamente contribuiu para a politização da missão e da pastoral católicas.

A Teologia da Libertação nasceu no contexto de países com grandes desigualdades sociais e ditaduras autoritárias. Teólogos como Gustavo Gutiérrez, Jon Sobrino e os irmãos Leonardo e Clodovis Boff (Clodovis agora está rompido com a TdL) propuseram uma leitura da fé que parte da “opção preferencial pelos pobres” e que incorpora análise socioeconômica para compreender o pecado estrutural, um conceito matreiramente inventado por teólogos da TdL. Muitos desses autores utilizaram categorias marxistas (conflito de classes, análise das estruturas econômicas, concepção de ideologia) como ferramentas analíticas, ainda que nem sempre como adesão a todo o corpus ideológico marxista. Essa apropriação seletiva foi vista por seus defensores como um instrumento metodológico; porém, o certo é que proporcionou uma demoníaca contaminação doutrinal.l dos valores cristãos e católicos.

No Brasil, a influência da Teologia da Libertação se deu por vias pastorais, acadêmicas e por atuação social. Comunidades eclesiais de base (CEBs), pastorais sociais, centros de formação e universidades católicas tornaram-se espaços onde a reflexão teológica com forte viés social e revolucionário se difundiu. Padres e religiosos engajados nas pastorais passaram a ocupar posições de formação e coordenação, notadamente em dioceses pobres ou periféricas, criando uma rede que articula práticas sociais, como a mobilização por terra, direitos trabalhistas, assessoria jurídica popular, e reflexões teológicas. Esse processo produziu uma espécie de “aparelhamento” no sentido organizacional, em que estruturas de pastoral e ensino foram, em parte, orientadas por uma visão fortemente comprometida com mudanças sociais de matriz redistributiva a serem alcançadas por intermédio da luta de classes. Púlpitos se transformaram em palanques, missas em pregação revolucionária e padres que deveriam pregar a paz, a justiça e a harmonia entre as pessoas, em oradores revolucionários que trocaram a Bíblia e o Missal pelo Manifesto Comunista ou o Diário de Che Guevara, como foi o caso do padre Ernesto Cardenal, na Nicarágua; e Fom Pedro Casaldáliga, no Brasil. Tais desvios mostram tanto a força dessa disseminação quanto o tensionamento com setores mais conservadores da hierarquia eclesiástica.

A preocupação do Vaticano com derivações que pediam “práxis revolucionária”, levou à publicação de documentos críticos durante os papados de João Paulo II e do então Prefeito da Congregação (renomeda Dicastério) para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, um dos mais importantes teólogos católicos do século XX. Em 1984 e 1986 o Dicastério elaborou instruções que advertiam contra “empréstimos acríticos de categorias marxistas” e contra uma politização que poderia distorcer a mensagem cristã. Essas instruções não negaram a necessidade de atenção aos pobres, mas censuraram excessos analíticos e práticas que subordinassem a fé a projetos ideológicos.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que hoje pode ser apelidada de Sindicato dos Bispos do Brasil, historicamente manteve forte atuação em defesa dos direitos humanos, da democracia e das populações vulneráveis, sobretudo durante o período autoritário (1964-1982). Porém, mergulhou de tal forma nesse viés político-ideológico que alinhou-se claramente a pautas anticristãs e anticatólicas. Nas últimas décadas, em especial por ocasião das Campanhas da Fraternidade, a CNBB tem divulgado documentos, notas e posicionamentos públicos contendo uma linguagem desviante da Bíblia e do magistério da Igreja Católica, adotando agendas que coincidem com pautas “progressistas” e identitárias, próprias do que há de mais anticristão no meio do esquerdismo. No debate específico sobre “ideologia de gênero”, a CNBB e bispos regionais publicaram notas críticas à difusão de concepções que, segundo suas declarações, “desconstruiriam” a família tradicional e confundiriam papéis sexuais, ao mesmo tempo em que dialogam sobre proteção e dignidade humana. Todavia, na prática, a CNBB tem apoiado o que há de pior em termos de iniciativas do governo brasileiro, claramente partidário da desconstrução dos valores tradicionais da religião cristã e a favor da marxistização da nossa sociedade. Um exemplo concreto é o silêncio da CNBB em relação às injustiças que o Supremo Tribunal Federal tem cometido contra centenas de pessoas acusadas e presas sem o imprescindível respeito ao devido processo legal. Enquanto isso, o comando da CNBB recebe aos sorrisos e abraços, em sua sede em Brasília, o ministro Flávio Dino, comunista assumido e defensor intimorato de pautas anticatólicas. É certo que não se pode olvidar o fato de que a CNBB não é uma entidade monolítica. Há fortes diferenças internas entre bispos conservadores e outros com visão libertária. Porém, institucionalmente, a CNBB, por ampla maioria tem assumido posicionamentos públicos que sinalizam alinhamento com pautas de esquerda e com linguagens identitárias em algumas frentes.

Com efeito, essa atuação desastrada da CNBB e outros organismos da Igreja, claramente aparelhados de forma gransciana, têm algumas consequências problemáticas para o catolicismo brasileiro, sendo um deles, talvez o mais visível, a evasão de católicos para as denominações protestantes/evangélicas. Outras consequências são notadas, entre as quais a relativização teológica, que se manifesta quando o diagnóstico social se sobrepõe ao núcleo dogmático da fé. Aqui corre-se o risco de adaptar o cristianismo a agendas ideológicas. Segue-se a deturpação do ideal de direitos humanos. Para nós está bem evidente que há instrumentalizações dos direitos humanos para promover agendas políticas específicas, tais como pautas identitárias ou reivindicações legislativas, por exemplo, sem diálogo prudente com tradições morais e antropológicas. Observamos também a fragmentação pastoral, que surge com a polarização interna entre igrejas locais e a hierarquia, o que dificulta unidade pastoral e confunde a mensagem aos fiéis.

Fique bem claro que essas críticas não negam a importância da defesa dos pobres ou dos direitos humanos, mas afirmam que a forma e a linguagem adotadas, quase sempre herdeiras de vocabulários da esquerda política, contribuem para desfigurar a missão evangelizadora e produzir rupturas internas. Essa observação encontra respaldo em análises históricas e teológicas que problematizam o uso acrítico de categorias ideológicas. A Igreja cristã tem uma história de defesa dos pobres, para além de intenções ideológicas e práxis políticas. Todavia, em absoluto, não se pode substituir Cristo pelos pobres. (Cf. Evangelho de São Marcos 14.7).

A polarização entre um setor que entende a Teologia da Libertação como autêntica expressão do carisma social cristão e outro que a vê como influência ideológica inaceitável, exige respostas que primam pelo diálogo acadêmico e eclesial. Devemos levar em consideração, em primeiro lugar, a reafirmação clara do núcleo doutrinal da fé enquanto se preserva o compromisso social; formação teológica plural nas faculdades e centros pastorais, exposição a várias correntes e crítica metodológica, sem fugir do núcleo central que é Cristo; diálogo público qualificado entre teólogos, bispos, autoridades e sociedade civil sobre limites e objetivos das políticas sociais; transparência e proporcionalidade entre ação pastoral e engajamento político-partidário, com ênfase na preservação da identidade pastoral sem virar advogados de movimentos políticos.

A história recente da Igreja Católica no Brasil mostra que a aproximação com análises de matriz marxista via Teologia da Libertação deixou marcas profundas e dolorosas. Poucas positivas, tanto positivas. A CNBB, por ter um papel público relevante não tem contribuído para a harmonia ao pender a balança para a TdL, ou seja, para a esquerda ideológica. O caminho saudável passa por recuperar o equilíbrio entre fidelidade doutrinal e compromisso social, promovendo um debate interno maduro, crítico e plural. O rebanho de Cristo continua seguindo as pegadas do Bom Pastor e as forças demoníacas não prevalecerão contra a Igreja.

Bibliografia parcial

1. “A fumaça de satanás”, de Geraldo Tito Silveira.
2. “A gradual marxistização da teologia”, de Miguel Poradowski.
3. “A voz dos Papas contra o comunismo” – coletânea de Encíclicas.
4. “Cristianismo e Comunismo”, de Henry Chamber.
5. “Igreja, Carisma e Poder”, de Leonardo Boff.
6. “O comunismo e o futuro da Igreja no Brasil”, de Michel Schooyans.
7. “Por uma igreja em subida”, de Clodovis Boff.
8. “Por uma Teologia da Libertação” de Rubem Alves.
9. “Teoria do Método Teológico”, de Clodovis Boff.
10. “Teologia da Libertação – um salva-vidas de chumbo para os pobres”, de Julio Loredo de Izcue.

Barros Alves é jornalista e poeta

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (1)

  • Uma análise perfeita, Barros Alves. Em verdade, essa postura marxista por muitos padres da Igreja católica tem afastado milhões de fiéis dos seus templos, ao tempo em que milhões de fiéis têm aderido às igrejas evangélicas.

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