“O que os jovens querem da escola?” – Por Cleyton Monte

Cleyton Monte é cientista político, pesquisador e presidente do Centec. Foto: Arquivp Pessoal.

Com o título “O que os jovens querem da escola?”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec. “A escola que não ouve seus estudantes está fadada a se tornar irrelevante”, expõe o articulista.

Confira:

Um estudo recente do Ministério da Educação, realizado com adolescentes do Ceará, revela um dado que deverá mobilizar gestores, professores e governos: os jovens querem aulas práticas, escolas seguras e espaço para exercer protagonismo. Em outras palavras, pedem uma escola viva, conectada à realidade, capaz de dialogar com seus projetos de vida. A pesquisa desmente o discurso de que a juventude estaria desinteressada pela educação. O que existe, na verdade, é uma rejeição à escola que não os escuta, que insiste em repetir fórmulas do passado e que pouco dialoga com os desafios do presente. Vejamos.

As respostas dos estudantes mostram que há uma demanda latente por experiências concretas — laboratórios, oficinas, atividades culturais e projetos que façam sentido para o território em que vivem. Não se trata apenas de “aprender fazendo”, mas de compreender o conhecimento como ferramenta para transformar a vida em comunidade. Quando um jovem pede aulas práticas, está querendo apreender o sentido da escola no mundo real. E quando reivindica protagonismo, exige ser reconhecido como sujeito de direitos e de voz ativa nas decisões sobre sua própria aprendizagem.

No Ceará, onde a rede pública construiu um modelo de gestão que se tornou referência nacional, essas demandas colocam novos desafios. O sucesso em índices de aprendizagem precisa vir acompanhado de uma escola mais democrática, criativa e protetora. Não basta alcançar metas; é preciso produzir sentido. A juventude quer participar da construção curricular, discutir temas que atravessam sua vida — saúde mental, violência, desigualdades, política e futuro do trabalho — e não apenas decorar conteúdos para avaliações.

Nesse contexto, a recente iniciativa do governador Elmano de Freitas (PT) aponta um caminho promissor. Ao sancionar as leis que incluem “empreendedorismo e inovação” e “conscientização, identificação e prevenção de situações de violência intrafamiliar e abuso” no currículo da rede pública, o governo amplia o horizonte formativo dos estudantes e aproxima a escola das urgências sociais do presente. Essas medidas dialogam diretamente com o que os jovens pedem: uma educação capaz de articular conhecimento, cidadania e autonomia.

O estudo do MEC é, portanto, um alerta e uma oportunidade. A escola que não ouve seus estudantes está fadada a se tornar irrelevante. Em tempos de redes sociais, desinformação e novas tecnologias, educar exige diálogo e empatia institucional. O protagonismo juvenil não é modismo; é condição para manter o vínculo entre educação e democracia. O que os jovens do Ceará
estão dizendo é simples e profundo: eles não desistiram da escola — estão pedindo que a escola não desista deles.

*Cleyton Monte

Cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec.

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