“Ciro, com altos e baixos, nos oferece uma certeza: ele é um personagem em que a fidelidade é relativa e o prazo de validade desta será sempre um risco à espreita”, aponta o jornalista Luiz Henrique Campos
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Pode parecer inusitada a cena em que o ex quase tudo Ciro Gomes declarou voto em Pastor Alcides (PL) caso ele seja o candidato da direita bolsonarista no Ceará em 2026. Mas não é. Basta uma rápida passada de vista na sua trajetória política, para entender que falas e posicionamentos polêmicos são comuns, tanto que não só lhe projetaram nacionalmente, como o levaram ao desastre em momentos decisivos, sem que ao longo desse percurso, tenha deixado de lado a velha e boa retórica que o alimenta como homem público.
Para além desse aspecto da polêmica, todavia, a carreira de Ciro, com altos e baixos, nos oferece uma certeza: ele é um personagem em que a fidelidade é relativa e o prazo de validade desta será sempre um risco à espreita. Não à toa, há uma lista em sua estrada, de aliados que se tornaram adversários e vice-versa. Se em termos individuais isso lhe causou desafetos com adjetivações pejorativas, no campo partidário, essas tomadas de decisões eram vistas apenas como retratos do momento, que o digam José Serra e Lúcio Alcântara, na época de PSDB.
Com excelente poder de persuasão, capacidade de mobilização política e bons resultados em termos de gestão por onde atuou no executivo, Ciro nunca se importou muito em sair de um partido para outro atirando, como se em todos eles, nunca, de fato, se sentisse confortável. Como a lenda do judeu errante, a relação de Ciro com os partidos políticos parece condená-lo a uma deambulação perpétua na eterna busca de algo que se perdeu sem que ele próprio saiba o que seja.
Talvez por isso, já meio que no ocaso de sua biografia, Ciro tenha encontrado junto à direita bolsonarista um retorno inconsciente às suas origens, pois para quem não sabe, do lado paterno, o pedetista vem de uma longa linhagem de políticos cearenses – o bisavô, o avô e o pai foram prefeitos de Sobral -, oriundos de partidos que sempre estiveram do lado da ditadura, defendendo as pautas que hoje voltaram com efervescência, como Deus, pátria e família.
Quem, sabe, agora, o brilhante Ciro Gomes possa, enfim, se sentir à vontade.
Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas” do Blogdoeliomar