“Onde estão as provas?” – Por César Wagner

César Wagner é ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará

“A tese de que Bolsonaro comandou os atos de 8 de janeiro carece de base sólida. O que temos são suposições e alegações desconexas”, aponta, em artigo, o ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, César Wagner

Confira:

A cada nova denúncia ou depoimento, repete-se o mesmo padrão: acusações graves, manchetes escandalosas e, quando se busca a prova material, o silêncio. As investigações contra Jair Bolsonaro e integrantes do alto comando das Forças Armadas parecem mais interessadas em sustentar uma narrativa do que demonstrar fatos de forma objetiva.

Onde estão as provas de que o almirante Garnier colocou tropas à disposição do então presidente? A narrativa do comandante da Aeronáutica?. Onde está a comprovação de que o general Braga Netto teria entregue dinheiro a Mauro Cid? Temos apenas a palavra de um delator que desejava pena menor e livramento do pai e esposa de processos. E a acusação de que Felipe Martins participou da exibição de uma minuta com “considerandos golpistas” em uma reunião? Novamente, sem ligação direta, sem prova documental nem testemunhal.

O caso do hacker Walter Delgatti é emblemático. Fala-se que ele esteve diversas vezes no Ministério da Defesa, junto de uma equipe das Forças para avaliar o sistema eleitoral. Mas onde está o registro dessas visitas? Onde está a comprovação de que as Forças seguiram orientações do hacker para elaborar um relatório? Novamente, apenas a palavra do próprio Delgatti, um réu confesso e condenado.

A tese de que Bolsonaro comandou os atos de 8 de janeiro carece de base sólida. O que temos são suposições e alegações desconexas. Onde está a ordem expressa, a coordenação, o comando? Onde está a prova de que houve centralização de financiamentos com o conhecimento ou orientação de Bolsonaro? Cadê o elo direto entre ele e a depredação dos prédios da República?

As acusações contra os generais Estevam Theophilo, Braga Netto, Heleno e Paulo Sérgio também se sustentam em “intenções” e “possibilidades”. Não há gravações, e-mails, documentos ou ordens de movimentação de tropas. Não há provas do conhecimento de altas autoridades do “Plano Copa 22” ou “Punhal Verde-Amarelo”. Fala-se muito, mas prova-se pouco — ou nada.

Se realmente houve uma tentativa de golpe, por que a transição de governo foi tão pacífica? O próprio ministro José Múcio confirmou isso, assim como o então chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Se Bolsonaro desejava o golpe, por que não trocou os comandantes das Forças que não o apoiavam? Onde estavam as massas, as Forças Armadas, a imprensa ou potências internacionais que endossassem esse plano?

E como alguém pode liderar um golpe do exterior, enquanto já não exerce mais o poder?

O que vemos é a tentativa de construir um roteiro de golpe que começa anos antes, no início do mandato de Bolsonaro, como se tudo tivesse sido uma conspiração silenciosa e sem vestígios — apenas suposições e recortes de falas impopulares, infelizes ou tolas.

Sim, Bolsonaro cometeu erros. Agiu de forma despreparada em muitos momentos. Disparou bravatas, alimentou tensões e muitas vezes faltou com a liturgia do cargo. Mas isso é crime? Imoralidade, indecisão e falta de liderança não são tipos penais.

O ex-presidente admitiu falas inadequadas, pediu desculpas — uma demonstração de amadurecimento tardio, mas ainda assim reveladora. O problema central é que muitos brasileiros esperavam dele uma ação concreta, enquanto ele recuava em silêncio, deixando seus apoiadores diante dos quartéis sem direção ou resposta.

O que está em julgamento não é um golpe, mas a reputação de um homem que, apesar de todos os erros, não liderou exércitos, não assinou decretos inconstitucionais, não derrubou instituições. O que está em jogo é a tentativa de transformar erros políticos e morais em crimes que, até aqui, carecem de provas.

Se a cadeira da presidência era grande demais para Bolsonaro, é legítimo fazer esse julgamento político e histórico. Mas forçar um julgamento criminal sem evidências concretas não é justiça — é vingança travestida de processo legal. Será?

César Wagner é ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, ex-coordenador-geral da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), ex-diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), ex-diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e ex-delegado Titular da Delegacia de Combate ao Narcotráfico. Ex-secretário de Segurança de Aracati. Formado em Direito (Unifor) e especialista em Direito Processual Penal (Unifor). Jornalista, comunicador, radialista, palestrante e consultor de empresas na área de prevenção de comportamentos irregulares

COMPARTILHE:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Email

Respostas de 5

  1. A jornalista Karina Michelin disse: “O julgamento de Jair Bolsonaro e dos réus do 8 de janeiro tem sido, desde o início, muito mais do que um simples processo judicial: tornou-se uma exibição pública de força, sarcasmo e humilhação, cuidadosamente orquestrada sob o manto da legalidade. O que está em curso não é um debate jurídico sério sobre fatos e provas, mas a consolidação de um modelo de poder autorreferente, que já escolheu culpados e agora apenas interpreta o roteiro previamente escrito para condenar”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Notícias