Com o título “Orgasmo Sem Tabu: Por que Ainda Falamos Tão Pouco Sobre Isso?”, eis artigo de Zenilce Bruno, psicóloga e sexóloga. Ela aborda tema dos mais polêmicos, controvertido e pouco discutido na sociedade.
Confira:
Mesmo em tempos de liberdade sexual crescente, falar abertamente sobre prazer e especialmente sobre orgasmo feminino ainda é um tabu. Silenciado por séculos de repressão cultural, o tema continua cercado de desinformações, culpas e constrangimentos. Devemos
refletir sobre os obstáculos e caminhos possíveis para transformar essa realidade, destacando a importância do orgasmo para a saúde física e emocional.
A lacuna do prazer: o que ainda nos impede de falar sobre orgasmo?
O orgasmo é um fenômeno fisiológico e emocional natural, mas tratado como algo quase proibido, principalmente quando diz respeito ao corpo feminino. Essa lacuna é herança de estruturas sociais patriarcais que historicamente associaram o prazer sexual ao homem e a pureza à mulher.
Durante muito tempo, o prazer feminino foi ignorado até mesmo em contextos médicos. A masturbação feminina, por exemplo, ainda é cercada de mitos. A cultura do “sexo como obrigação” ainda paira sobre muitas relações, tornando o prazer algo acessório, quando, na verdade, deveria ser direito e fonte de bem-estar.
Como driblar esse silêncio?
A superação do tabu começa por um conjunto de atitudes individuais e coletivas:
•Educação sexual integral, que inclua o tema do prazer de forma responsável e científica, desde a infância.
•Espaços de escuta e diálogo, sem julgamentos, onde corpos e experiências possam ser compreendidos em sua diversidade.
•Mídia e cultura mais realistas, que não associem o orgasmo a padrões inalcançáveis ou à performance estética.
•Autoconhecimento e autonomia sexual, incluindo a redescoberta do próprio corpo por meio da masturbação consciente e da comunicação aberta com a parceria.
A importância das datas comemorativas: o caso do Dia do Orgasmo
Datas simbólicas, como o Dia do Orgasmo (31 de julho), têm papel fundamental na quebra de paradigmas. Elas nos lembram que prazer é saúde, e não deveria ser ignorado ou considerado supérfluo.
Para especialistas da saúde e da educação, essas ocasiões servem para impulsionar campanhas, abrir conversas, desconstruir mitos e reafirmar o direito ao prazer como parte da cidadania sexual. São momentos de visibilidade que ajudam a normalizar temas que ainda são vistos com preconceito ou desconforto.
Por que ainda sabemos tão pouco sobre o orgasmo feminino?
A desinformação sobre o orgasmo feminino está enraizada em diversos fatores:
•A ausência de educação sexual voltada para o prazer.
•A visão da sexualidade feminina como algo passivo, centrado no outro.
•A persistência de padrões que privilegiam o sexo penetrativo como forma “oficial” de relação, ignorando que a maioria das mulheres atinge o orgasmo pelo estímulo clitoriano, não vaginal.
•A vergonha ou o medo de falar sobre o assunto até mesmo entre mulheres.
Para mudar isso, é preciso estimular o diálogo, promover pesquisas científicas e abordagens terapêuticas que considerem o prazer como elemento central da saúde sexual. É urgente que os espaços de cuidado como escolas, consultórios, famílias, incluam esse debate com responsabilidade e empatia.
Sexo, orgasmo e saúde: qual é a conexão?
O sexo, quando vivenciado com respeito, liberdade e desejo, tem impactos poderosos na saúde física e emocional. O orgasmo, por sua vez, não é só o “ponto alto” de uma relação sexual: ele desencadeia uma série de reações benéficas ao corpo e à mente.
Entre os benefícios, estão:
•Liberação de endorfina e ocitocina, hormônios que reduzem o estresse e aumentam a sensação de bem-estar.
•Melhoria do sono e do humor.
•Fortalecimento do sistema imunológico.
•Aumento da autoestima e da conexão emocional com a parceria.
Mas tão importante quanto o orgasmo em si é o caminho até ele. Uma boa relação sexual não se mede por tempo, frequência ou número de orgasmos. Ela se define por consentimento mútuo, comunicação clara, liberdade para explorar e conexão genuína.
O prazer é um direito, não um privilégio.
Falar sobre orgasmo é falar sobre autonomia, saúde, prazer e dignidade. É romper com uma história de silêncios e imposições para abrir espaço para a escuta, o cuidado e a liberdade.
Seja no consultório, na sala de aula, em casa ou nas redes sociais, falar sobre prazer com naturalidade é um passo essencial para uma sociedade mais saudável, justa e livre.
*Zenilce Bruo
Psicóloga e sexóloga.