“Os elogios de Trump e a pós-verdade como aliada da polarização” – Por Luiz Henrique Campos

Lula X Trump com previsão de encontro. Fotos: Reprodução

Com o título “Os elogios de Trump e a pós-verdade como aliada da polarização”, eis a coluna Fora das 4 Linhas, desta quinta-feira, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos no Blogdoeliomar. “Sou de um tempo em que o que era dito valia mais do que a assinatura. Depois, cobrindo política, aprendi que o que valia não era o que foi dito, mas por quem foi dito. Hoje, não mais importa o fio do bigode, nem quem falou, e sim como as pessoas querem receber o que é dito, e assim caminha a humanidade”, expõe o colunista.

Confira:

Tem sido interessante acompanhar as mais variadas leituras de lados opostos sobre os elogios feitos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Lula, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Interessante, porque a simples fala no mundo contemporâneo doentio no qual vivemos, já não se encaixa no fato objetivo em que ela se insere.

Ou seja, o que é dito, não mais representa a verdade em si, pois o que vale é a pós-verdade, fenômeno em que os fatos objetivos perdem peso na formação da opinião pública, cedendo lugar à emoção, às crenças pessoais e às narrativas construídas. Na pós-verdade, não é a veracidade da informação que mais importa, mas a sua capacidade de confirmar convicções prévias e mobilizar afetos — medo, indignação, esperança, raiva.

Esse processo é intensificado pela circulação rápida e massiva de conteúdos em redes sociais, onde algoritmos favorecem o que gera engajamento, independentemente de sua veracidade. Nesse contexto, a pós-verdade se conecta diretamente ao cenário de polarização política e social, onde pessoas passam a consumir apenas conteúdos alinhados a suas visões, filtrados por redes sociais e mídias segmentadas.

Isso cria “câmaras de eco” que confirmam crenças e tornam o contraditório invisível. O reflexo disso é que em contextos polarizados argumentos racionais perdem espaço diante de mensagens simplificadas e emocionais, que estimulam identidades de grupo (“nós contra eles”). Ao mesmo tempo, a erosão da confiança é um fato, onde a dúvida sistemática sobre ciência, imprensa, justiça ou governos alimenta narrativas paralelas que servem a projetos políticos específicos.

A verdade, assim, radicaliza o debate público, e deixa de ser algo negociável ou fruto de consenso social, passando a ser percebida como “arma” do adversário. Isso acirra antagonismos e dificulta a construção de pontes de diálogo, além da simples fala se tornar secundária diante da eficácia simbólica, afetiva e política do discurso.

Sou de um tempo em que o que era dito valia mais do que a assinatura. Depois, cobrindo política, aprendi que o que valia não era o que foi dito, mas por quem foi dito. Hoje, não mais importa o fio do bigode, nem quem falou, e sim como as pessoas querem receber o que é dito, e assim caminha a humanidade.

*Luiz Henrique Campos

Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”, do Blogdoeliomar.

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