“Apesar das baixas de ambos os lados, o Estado demonstrou que, quando decide agir, é capaz de reagir à altura dos que desafiam sua autoridade e espalham o medo entre os cidadãos”, aponta o coronel RR da PMCE Plauto de Lima
Confira:
A operação da polícia fluminense contra o “bunker” do crime organizado (refúgio que abrigava chefes de facções de vários estados, inclusive do Ceará, para treinamento e proteção) foi, sob o ponto de vista policial, um êxito. Apesar das baixas de ambos os lados, o Estado demonstrou que, quando decide agir, é capaz de reagir à altura dos que desafiam sua autoridade e espalham o medo entre os cidadãos.
Os números da operação impressionam: cerca de 2.500 policiais foram mobilizados para o cumprimento de aproximadamente 250 mandados de prisão e busca e apreensão. Ao final, 113 pessoas foram presas, 118 armas (a maioria fuzis) e mais de meia tonelada de drogas (cocaína, maconha e crack) foram apreendidas, além de dezenas de motocicletas e automóveis recuperados.
O confronto, intenso e prolongado, empurrou os criminosos para uma área de mata, estratégia que buscava reduzir riscos aos moradores das comunidades. Milhares de disparos cruzaram o ar, e até drones armados com granadas foram utilizados contra as forças de segurança. O resultado foi trágico: 121 mortos, dezenas de feridos e policiais gravemente atingidos. Um retrato duro da guerra silenciosa que há anos se trava nos becos das grandes cidades.
Mas, enquanto o Estado combatia o crime nas ruas, outra batalha se desenrolava nas telas e nos estúdios: a das narrativas. Bastou cessar o barulho das armas para que surgissem, em profusão, os “especialistas” de ocasião. Comentários apressados e análises descoladas da realidade tomaram conta dos noticiários, como se fosse possível compreender a complexidade da violência brasileira a partir de teorias isoladas e frases de efeito.
Entre essas vozes, destacou-se a de uma acadêmica que apareceu em rede nacional com visual excêntrico e discurso inflamado, expondo uma leitura completamente desconectada da dura realidade da violência brasileira, propondo soluções ingênuas e irreais, com a típica prepotência acadêmica de quem confunde teoria com experiência. Não se trata aqui de desqualificar o conhecimento teórico (ele é necessário), mas de reconhecer que a segurança pública é um campo que exige também vivência, experiência e compreensão prática da realidade que se pretende transformar.
O filósofo espanhol José Ortega y Gasset, em “A Rebelião das Massas” (1930), descreve o perfil desses novos intérpretes da modernidade: o “especialista moderno”, que domina profundamente um fragmento do saber, mas ignora o conjunto da realidade. Para ele, o especialista é um “sábio ignorante”, alguém que sabe muito sobre quase nada e nada sobre quase tudo.
Nas palavras de Ortega:
“O especialista ‘sabe’ muito bem o seu pequeno recanto do universo, mas ignora todo o resto de modo radical. Não é um sábio, mas um homem culto transformado em bárbaro, porque perdeu o sentido do todo.”
Hoje, em meio ao barulho das opiniões, são raras as vozes que compreendam o todo, que unam teoria e prática, reflexão e ação. A crítica de Ortega permanece atual: vivemos cercados por especialistas que explicam o mundo sem conhecê-lo.
No caso desses “especialistas em segurança”, os ensinamentos de Salomão poderiam fazê-los contribuir bem mais para a paz do país:
“Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio; e o que cerra os lábios é tido por entendido.”
(Provérbios 17:28)
Plauto de Lima é coronel RR da PMCE e membro da Academia Cearense de Letras, Arte e Cultura Militar