Os melhores livros do século? – Por Mirelle Costa

(Clube Leituras Paralelas no dia da leitura coletiva da obra “O avesso da Pele” // foto: Divulgação)
(Clube Leituras Paralelas no dia da leitura coletiva da obra “O avesso da Pele” // foto: Divulgação)

Sai a lista, entra sempre a polêmica. O jornal Folha de São Paulo publicou recentemente a lista dos 25 Melhores Livros Nacionais do Século.

Ler a palavra “Melhores” já nos faz pensar em que aspectos são melhores e quem determina essa qualificação.

101 pessoas inseridas no mercado editorial, como críticos, jornalistas e livreiros, foram responsáveis por fomentar as discussões sobre quem ficou de fora e quem foi escolhido. Alguns apontamentos nas redes sociais estavam relacionados à percepção do público leitor, que não foi valorizada nessa escolha.

Sendo assim, habemos opiniões! Vamos ouvir quem tá sempre falando sobre literatura nas redes sociais e na vida real também?

O escritor Rafael Caneca observa alguns pontos, como a falta de regionalismo e uma ausência de repertório cultural que contemple regiões que não estão no eixo Sul e Sudeste. Conheço muitos autores nordestinos que mereciam estar ali. “A gente vê muita coisa vinda de uma mesma editora, eu destacaria outros livros, mas como essa é minha opinião pessoal, eu certamente colocaria o livro “Faca”, do Ronaldo Correia de Brito, bem como “A Pediatra, da Andrea Del Fuego”. “Torto Arado” eu também colocaria, já “Eles Eram Muitos Cavalos” não figuraria na minha lista. Livros publicados por editoras menores ou até por autores independentes poderiam estar na listagem, como por exemplo, o livro “Erva brava”, da escritora Paulliny Tort, publicado pela Fósforo Editora”, indica Rafael Caneca.

(Rafael Caneca é escritor de ficção, mas com os pés no real, idealizador do @pacotedetextos // Foto: Arquivo pessoal)
(Rafael Caneca é escritor de ficção, mas com os pés no real, idealizador do @pacotedetextos // Foto: Arquivo pessoal)

A administradora, Mirna Frota, do clube de leitura “Leituras Paralelas”, leu metade dessa lista e fez questão de reverenciar as obras “Olhos d’Água e “O Avesso da Pele”. “A leitura coletiva foi indicada por mim, à época, pois o Jeferson Tenório havia sofrido censura. Isso foi em agosto de 2024. Gostei demais da obra, que está super viva ainda em minha memória. A gente precisa falar sobre racismo com a mesma naturalidade com que ele está presente no nosso dia a dia — e, infelizmente, ele está. O Brasil é um país miscigenado, sim, mas também é um dos mais racistas do mundo. Ler esse livro é abrir espaço para um debate necessário, urgente. Não dá pra combater o racismo sem educação, conversa e desconforto e a literatura tem esse papel: cutuca, incomoda, mas também transforma”, desabafa Mirna Frota, uma das integrantes e fundadoras do clube de leitura Leituras Paralelas, que existe há mais de cinco anos (cinco anos e seis meses, especificamente, como ela orgulhosamente conta).

(Clube Leituras Paralelas no dia da leitura coletiva da obra “O avesso da Pele” // foto: Divulgação)
(Clube Leituras Paralelas no dia da leitura coletiva da obra “O avesso da Pele” // foto: Divulgação)

Blog do Eliomar

Em março de 2024, o Clube Leituras Paralelas leu e discutiu coletivamente Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo. “Foi uma leitura incômoda, mas necessária. A obra escancara realidades de pessoas que vivem à margem — muitas vezes a maioria da população —, mas que seguem invisíveis. As histórias são duras, sem alívio, e lembram aquelas que geralmente só vemos nos jornais policiais: distantes, mas reais”, explica Mirna Frota. Ela destacou também que leituras como essa são essenciais para tirar o leitor da bolha e ajudar a enxergar o mundo com mais empatia. Para Mirna, o livro também reforça uma reflexão importante. “Não basta exaltar autores negros, é urgente valorizar as escritoras negras. Conceição Evaristo é uma dessas vozes potentes que, com sua trajetória, mostra que é possível transformar a própria realidade por meio da educação e da literatura”, aponta.

(Foto de Aristides Vieira, vencedor do quiz realizado na reunião do clube sobre a vida da escritora Conceição Evaristo do livro Olhos d’Água // Foto: Arquivo pessoal)
(Foto de Aristides Vieira, vencedor do quiz realizado na reunião do clube sobre a vida da escritora Conceição Evaristo do livro Olhos d’Água // Foto: Arquivo pessoal)

O gerente de produção da Editora Expressão Gráfica, Mauro Gurgel, também destaca obras cearenses que não foram contempladas. “Essas listas nunca satisfazem a todos. Os critérios de escolha nem sempre são os nossos. Destaco, por exemplo, obras premiadas, como “À Cidade”, do Mailson Furtado, vencedor do Jabuti de 2018, na categoria Livro do Ano e “A palavra que resta”, premiada internacionalmente, do escritor Stênio Gardel. Outra obra que eu destacaria, também de um cearense, o Décio Brauna, é “Esta solidão aberta que trago no punho”, finalista do prêmio Oceanos, mas eu vejo os livros escolhidos como bastante representativos para este século. Concordo com uma parcela significativa dessa listagem”, aponta Mauro Gurgel.

(Mauro Gurgel também é advogado e economista. É daquelas pessoas que, quando você entra na sala dele, lá na Expressão Gráfica, não tem mais vontade de sair pra ter a oportunidade de ficar divagando sobre literatura)
(Mauro Gurgel também é advogado e economista. É daquelas pessoas que, quando você entra na sala dele, lá na Expressão Gráfica, não tem mais vontade de sair pra ter a oportunidade de ficar divagando sobre literatura)

Independentemente das discussões, eu acho que falem bem ou falem mal, mas falem dos livros, pois isso estimula a curiosidade e, consequentemente, incentiva o hábito da leitura, afinal, pra criticar uma obra (ou alguém) é preciso conhecê-la antes.

Monte a sua lista e compartilhe conosco aqui nos comentários!

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Respostas de 2

  1. Entendo toda e qualquer lista excludente.
    Quem leu todos os livros?
    Quem detém todos os conhecimentos para avaliar?
    Quando um livro é indicado por alguém que já consta da mídia, não só como escritor mas como conhecedor da área ele figura nas melhores listas.
    Existem diversos temas e formas e gêneros. O que vai transformar um livro é melhor que o outro?

  2. Elaborar lista dos melhores livros é como tentar escolher o filho preferido…kkkk… impossível. Kkkk
    O clássico discute com o best-seller, o suspense faz cara feia pro romance, enquanto a poesia observa tudo, pleníssima, tomando um café filosófico. No fim, a única certeza é que toda lista de ‘melhores livros’ diz mais sobre quem faz a lista do que sobre os livros em si. E tá tudo bem: no fundo, a melhor obra é sempre aquela que escolhe a gente no momento certo.

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