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Os números são alarmantes, mas não há desfecho à vista para essa guerra

Denise Assis é jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF

O mundo agoniza. As bolas de fogo no horizonte de Gaza nos contam que o fim ainda está longe. Há mais a destruir. Há que destruir os nossos bons sentimentos. Há que cessar a nossa capacidade de nos emocionarmos diante da menina que grita, corpo tenso da cabeça aos pés, rosto ensanguentado dos ferimentos do corpo do irmão, que ela abraçou e jaz aos seus pés.

Lá fora outros tantos não sangram. Foram derretidos pelo fósforo branco, arma química – pretexto para a invasão dos EUA ao Iraque, em 20 de março de 2003 –, que derrete a carne e calcina os ossos. Há pouco a recolher dos que são atingidos. Sob as lajes de concreto e vergalhões de ferro retorcidos há mais um tanto de pessoas. Ali permanecerão, até que se faça a conta fatídica no final. E quando será o final? Mortos e vivos se misturam no mesmo cenário sem teto, sem ruas, sem endereços postais. Última morada, ali mesmo, a céu aberto. Morte e vida se confundem, entre um míssil e outro, a contagem escalando a cada estrondo.

O Ministério da Saúde controlado pelo Hamas fala em mais de 11.078 mil mortes em Gaza desde o início do conflito. A Cisjordânia relatou 183, entre os seus, enquanto autoridades israelenses registraram cerca de 1.200. Israel revisou e diminuiu o número de mortos, antes na casa dos 1.400, logo depois do ataque do Hamas em 7 de outubro. Segundo um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, a revisão se deu devido ao fato de haver muitos corpos não identificados e eles acreditam que alguns desses mortos eram combatentes do Hamas, e não israelenses.O lado palestino disse na sexta-feira (10/11) que o exército israelense lançou ataques a vários hospitais na Faixa de Gaza naquele dia, matando dezenas de palestinos. De acordo com o departamento de saúde da Faixa de Gaza, desde o início do conflito, 21 de 35 hospitais fecharam no território palestino. O Ministério da Saúde disse naquele dia que desde 7 de outubro ocorreram mais de 270 ataques a instituições médicas em Gaza. A dor é a frio, sem anestésicos. A quente, só a do coração. Além disso, pelo menos 57 ambulâncias foram danificadas, 45 das quais foram completamente destruídas.

Na segunda-feira (06/11), um dia antes de o conflito em Gaza completar um mês, o Ministério da Saúde do enclave controlado pelo Hamas divulgou que a marca de mortes havia superado dez mil, sendo mais de quatro mil crianças, mas teve os seus números contestados pelo governo norte-americano. Os números, no entanto, foram agora endossados pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), de acordo com a rede CNN.

“No Unicef somos muito, muito precisos com os nossos números. Temos reputação, não apenas porque estamos na linha de frente e entregamos resultados, mas temos evidências”, disse James Elder, porta-voz da agência da ONU. “Os nossos números estavam dentro de alguns por cento disso, quase idênticos”, completou, referindo-se aos dados das autoridades palestinas.

Os dados da Unicef exibidos no dia 08/11 são mesmo semelhantes aos do Ministério da Saúde de Gaza: ao menos 10.022 pessoas foram mortas nos incessantes bombardeios realizados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês). Entre esses mortos estão 4.104 crianças, detalham. “Conheço os meninos e meninas e as mães e os pais por trás (dos números). É por isso, e penso em nome do Unicef, que estamos tão indignados por eles continuarem a aumentar e por não conseguirmos um cessar-fogo humanitário”, acrescentou Elder.

Os combates continuam na Faixa de Gaza. Nessa sexta-feira (10/11), o exército israelense seguiu com os seus ataques aéreos e avançou as operações terrestres, enquanto o Hamas continuou a atacar alvos militares israelenses. As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que desde o início do conflito, o seu exército atacou mais de 15.000 alvos do Hamas e apreendeu 6.000 armas, incluindo mísseis antitanque, de acordo com informações da CNN.

Além disso, as FDI apontaram que o exército de Israel assumiu agora o controle de importantes postos avançados do Hamas na Faixa de Gaza. Quanto ao Hamas, por sua vez, disse que na sexta-feira disparou mísseis contra Israel em resposta ao aumento do número de mortos de civis no enclave. As Brigadas Al-Qassam, o braço armado do Hamas, anunciaram que continuaram a lutar com o exército israelense naquele dia e atacaram tanques inimigos, entre outros alvos.

Enquanto isso, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou nesse mesmo dia na sexta-feira (10/11), que as FDI assumirão o controle da Faixa de Gaza após o conflito em curso entre Israel e o Hamas.

“Após a eliminação do Hamas, haverá total controle de segurança israelense da Faixa de Gaza, incluindo a desmilitarização total, para garantir que não haja mais uma ameaça de Gaza aos cidadãos de Israel”, disse Netanyahu aos governantes de cidades israelenses perto da fronteira de Gaza durante uma reunião em Tel Avivi. “Não vamos entregá-la (Gaza) às forças internacionais”, ressaltou ele.

Ainda conforme informações da CNN, a reunião foi realizada depois que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, reafirmou no início do dia que os palestinos “não aceitarão a reocupação de Gaza ou a anexação de qualquer parte dela sob qualquer pretexto” ao discursar em uma cerimônia em memória do ex-líder palestino Yasser Arafat.

O governo palestino está preparado para assumir as suas responsabilidades na Faixa de Gaza como parte de um acordo político abrangente na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza, disse Abbas. Em seguida apelou à entrega de ajuda humanitária, incluindo suprimentos médicos, alimentos, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza, e pediu a Israel que pare a sua “agressão” na região.

A fala de Netanyahu se deu quando Gaza computava o total de quase 12 mil corpos e 45% de casas danificadas ou destruídas.

Para o mundo, mais eloquente são as imagens do bombardeio e da destruição. Já não faz sentido quem vai mandar onde e em quem. Embora saibamos que para esses senhores essa é a parte que importa.

Foi o drama das crianças de Gaza que ganhou maior destaque em comunicado da agência das Nações Unidas publicado na segunda (06/11). “Em todas as guerras, são as crianças que sofrem primeiro e que mais sofrem”, diz o texto da Unicef, antes de citar os dados divulgados naquele mesmo dia. “As crianças morrem em ritmo alarmante, vendo-lhes serem negados seus direitos básicos”, dizia o release”.

Por direito básico entenda-se aí o direito de ter um leito de hospital onde tratar os seus ferimentos, com anestésicos, sem que a dor física se rivalize com a de ver o corpo do irmão estendido no meio fio, inerte, sem saber para onde irão levá-lo, posto que subverteram os rituais de perda. A perda é sentida, presenciada, mas não há desfecho para aquelas vidas, porque também não há desfecho à vista para essa guerra.

Denise Assis é jornalista e Mestra em Comunicação pela UFJF

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