Com o título “Os Parâmetros da Violência no Ceará”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel da reserva da PMC e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. “O povo cearense, reconhecido por sua resistência e luta, tem um papel importante a desempenhar na busca por mudanças efetivas”, expõe o articulista.
Confira:
Existem alguns parâmetros para apontar um local como violento. E será por meio desses parâmetros que irei mostrar o inaceitável período de extrema violência que os cearenses estão vivendo. Pelo parâmetro da Organização das Nações Unidas (ONU), o quantitativo de 10 assassinatos por 100 mil habitantes é o índice tolerável. Segundo a ONU, a localidade que ultrapassa esse limite é considerada de altíssimo grau de violência, chegando a ser conceituada como epidemia.
Na maior parte dos países europeus, a taxa de homicídios não supera o patamar de 5 por 100.000 habitantes. No Brasil, mesmo tendo sido registrado um declínio histórico nos quatro anos do governo Bolsonaro, ainda temos uma taxa alta, registrando 22,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2023. Contudo, alguns estados brasileiros, principalmente das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, vêm reduzindo os percentuais de violência e se aproximando de números abaixo do limite tolerado pela ONU. Porém, principalmente na região Nordeste, esses números continuam altos e sem perspectiva de redução. Aqui no Ceará, o índice registrado em 2023 foi de 35,4 por 100 mil habitantes. Ou seja, pelo parâmetro da ONU, vivemos uma gravíssima epidemia de violência.
Outro parâmetro é analisar a violência no Ceará por números absolutos. Para isso, utilizaremos como referência a guerra travada entre russos e ucranianos. Nesse triste registro da história mundial, esse conflito bélico, após um ano do seu início, ceifou 8.006 vidas de civis. Dessas mortes, 90,3% foram ocasionadas por armas explosivas, projéteis de artilharia, mísseis de cruzeiro e balísticos, além de ataques aéreos. Comparando com o Ceará, somente no último período do governo petista, que tinha Camilo Santana como governador (2019 – 2022), 13.084 pessoas foram mortas de forma violenta. Somando com os quatro anos do primeiro mandato do petista (2015 – 2018), totalizaremos 30.897 civis assassinados.
Ressaltando que esses assassinatos não foram causados por armas de guerra, como as registradas na Ucrânia, mas por armas curtas, em confrontos quase corpo a corpo, estilo Primeira Guerra Mundial. Ou seja, os mandatos do petista Camilo Santana foram quase quatro vezes mais violentos do que um ano de guerra entre nações.
Outro parâmetro que iremos utilizar para revelar a gravíssima crise de segurança no Ceará é o retratado pelos jornais locais. Fazendo um recorte apenas de algumas notícias, veja as barbaridades que encontramos: “Quatro pessoas são mortas em chacina em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza”; “Onda de violência no Ceará deixa 12 mortos e 9 feridos em 48h”; “Adolescente desaparecido em Paraipaba é encontrado morto”; “Fortaleza registra 21 mortes em meio a onda de violência. Dentre os mortos, um menino de 10 anos. Outras 8 crianças e adolescentes ficaram feridos”; “Dois homens são mortos e jogados em canal em Fortaleza”; “Corpo de mulher é encontrado em saco abandonado na Av. Aguanambi, é de adolescente de 14 anos”. Isso é normal? Claro que não.
O apelo à ação e à conscientização é fundamental diante de uma situação tão grave como a violência no Ceará. O povo cearense, reconhecido por sua resistência e luta, tem um papel importante a desempenhar na busca por mudanças efetivas.
A conscientização sobre a gravidade do problema é o primeiro passo para a mobilização. Quando os cidadãos se unem para exigir mudanças, seja através de protestos, diálogos com autoridades ou iniciativas comunitárias, eles contribuem para a construção de um ambiente mais seguro e justo.
*Plauto de Lima
Coronel RR da PMCe e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas.