Com o título “Os que têm mais riso e menos pranto”, eis artigo de Irapuan Diniz de Aguiar, advogado e professor. Ele abordaa ação da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) no País,
Confira:
A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, idealizada pelo legendário e saudoso Felipe Tiago Gomes, na sua visão de ideário transformador, talvez haja se antecipado no tempo criando, em 1943, uma verdadeira ONG – Organização Não Governamental, qual seja a CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, com objetivos sociais de largo alcance, beneficiando o setor comunitário no campo da educação básica. Se imaginarmos que essa iniciativa ocorreu há 81 anos, podemos ter uma ideia exata da significativa obra social que, só no Estado do Ceará, passaram por seus bancos escolares cerca de um milhão de alunos, alguns dos quais ocupando, ainda hoje, posições de relevo em nossa sociedade.
Quem não lembra das Escolas Cenecistas – Arminda de Araújo, João Pontes, Júlia Jorge, Demócrito Rocha, Carolina Sucupira, sediadas em Fortaleza? O modelo de escolas autossustentáveis teve o seu momento em função da ausência total do Poder Público nas mais longínquas cidades interioranas, onde só restava ao cidadão, para a educação de seus filhos, a escola comunitária, construída e mantida por abnegados mestres que ofereciam os seus serviços voluntariamente.
De lá para cá ocorreram mudanças de toda ordem, seja no campo político, social, econômico e tecnológico, impondo novos conceitos às realidades organizacionais. Com a implantação, por exemplo, da LDB – Lei de Diretrizes de Base do ensino no país, a CNEC foi atingida pelo determinado e correto objetivo do Estado brasileiro de cumprir determinação constitucional, segundo a qual, competia ao poder
público a responsabilidade de educar o cidadão.
Desde então, o orçamento da União passou a contar com vultosas verbas destinadas aos governos estadual e municipal, para atender de forma definitiva o ensino médio e fundamental, respectivamente, ampliando benefícios e motivando os alunos das escolas públicas, ao oferecer merenda e transporte escolar gratuito, bolsa-escola e melhorias do ensino com a requalificação dos professores sem nenhum ônus para os pais dos alunos. Em comunidades extremamente carentes, como é o caso da maioria dos municípios onde a CNEC atua, as dívidas, especialmente trabalhistas, iam se avolumando num desafio a ser enfrentado.
Sem qualquer ajuda financeira, seja federal, estadual ou municipal, a CNEC pouco tem recebido das comunidades que a construíram, ficando, em alguns casos apenas com o passivo a descoberto contando, só e tão somente, com o seu patrimônio para honrar compromissos inadiáveis e socialmente justos. Superando todos os obstáculos, inclusive os efeitos da recente pandemia, a CNEC se mostra atualmente viva e crescente, mercê de sua reestruturação e da estratégia montada, a posicionando, nestes 81 anos de
existência, como uma instituição qualificada no cenário educacional, com atuação em todos os níveis de ensino – básico, fundamental, médio, profissionalizante e superior.
Para resgatar a rica história da CNEC, o professor-doutor José Lima Santana, cenecista-raiz, como hoje usualmente se fala, escreveu um livrocom o nome que intitula esta abordagem, lançado em Brasília no último dia 18 de junho, ao ensejo da realização da 13a Assembleia Geral da entidade, em que posiciona a CNEC no contexto da educação brasileira. É a oportunidade para que todos conheçam a reverenciem o sonho tornado realidade do legendário e saudoso Felipe Tiago Gomes na sua visão de um ideário transformador.
*Irapuan Diniz de Aguiar,
Advogado e professor.