“O que a instituição milenar poderia estar escondendo de seus fiéis? Por que a sociedade não seria merecedora de um mínimo de transparência? Quais riscos as famílias estariam expostas, diante de padres que não são padres?”, aponta em artigo o jornalista Nicolau Araújo, ao mostrar a construção de uma ideologia política. Confira:
Ele se apresentou como o diabo. Em sua face mais cruel. Aquele que divide os povos, que semeia a dúvida e que se alimenta do falso idealismo.
E foi assim, em alto e bom tom, que esbravejou que padre não era padre. Pelo menos, muitos dos que pregam para multidões, mesmo em igrejas, não seriam padres.
A peculiar arrogância do ser maligno a princípio não despertou a atenção dos homens de boa vontade, tampouco da própria Igreja.
Mas, então, os dias se seguiram. E dados passaram a ser apresentados. Alguns de forma astuciosa, daqueles que fazem tolos se imaginaram pensadores. Entre convicções e informações sem provas, fundamentos que se autossustentam há tempo. “Se algo pode dar errado, dará” (primeira lei de Murphy). Por que seria diferente entre a grande quantidade de padres? Há de se contar padres que não são padres. O que prova que a Igreja é falha.
E a peça, até então um monólogo, passou a ecoar entre os dogmas da Igreja, mesmo que na forma da indignação.
As primeiras reações ocorreram em missas, depois avançaram para as dioceses e, por fim, já era pauta diária nas arquidioceses.
De nada adiantou apontar que as denúncias sem provas partiram do diabo. Afinal, a criatura há muito atacada pela própria Igreja nada mais queria que uma contagem no número de padres. O que a instituição milenar poderia estar escondendo de seus fiéis? Por que a sociedade não seria merecedora de um mínimo de transparência? Quais riscos as famílias estariam expostas, diante de padres que não são padres?
E o aceno, enfim, chegou do Vaticano. Apesar da grita dos religiosos, o papa fora convencido que a contagem desmoralizaria a artimanha diabólica.
Enquanto o processo da contagem de padres ocorria, o diabo avançou na ofensiva. A metodologia foi questionada, fake news tumultuaram os números, dúvidas eclodiram, pesquisadores não eram pesquisadores.
Diante de um natural questionamento do número final, a quantidade de fiéis fragilizados era assustadoramente maior do que se podia prever.
Assim como surgiu, o diabo desapareceu em meio ao caos, indiferente ao resultado por ele denunciado. Não haveria de perder tempo na ocupação das catedrais, quando muralhas acusavam rachaduras…
Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido