Com o título “Papa Francisco: um legado de amor, fé e resistência contra o ódio”, eis artigo de João Aglaylson, vereador de Fortaleza pelo PT. “Seu legado é mais que lembrança: é apelo. Que a fé não erga muros, mas construa pontes. Que a Igreja não seja trono, mas refúgio. E que sua mensagem continue viva, nas mãos de quem acredita que o amor pode — e deve — transformar o mundo”, expõe o articulista.
Confira:
O mundo se despediu de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. Partiu uma das vozes mais lúcidas e humanas do nosso tempo. Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta a liderar a Igreja, Francisco será lembrado por sua fé, simplicidade e coragem em colocar os últimos em primeiro lugar.
Homem de hábitos modestos, recusou os luxos do Vaticano e escolheu caminhar ao lado dos pobres, dos migrantes, dos indígenas, dos esquecidos pela lógica neoliberal. Veio do sul do mundo, de onde brota a resistência. Um pastor que percorreu as periferias com o coração aberto e o Evangelho nas mãos.
Em tempos de avanço da extrema-direita, do negacionismo climático e do ódio racial e religioso, Francisco seguiu o caminho da empatia, da escuta e da solidariedade. Denunciou a concentração de renda, chamou o aquecimento global de “pecado contra a criação” e afirmou que os muros erguidos contra refugiados são feridas abertas na humanidade. Em sua última aparição pública, no domingo de Páscoa, pediu o cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Em 12 anos de pontificado, foi alvo constante de fake news — acusado injustamente por setores fundamentalistas que tentaram deslegitimar sua autoridade espiritual. Manteve-se firme, respondendo ao ódio com misericórdia e à mentira com serenidade. Com ele, a fé se fez política: solidariedade e justiça como prática da esperança.
Nos últimos tempos, manifestou preocupação com a possibilidade de que setores ultraconservadores influenciassem, mesmo indiretamente, os rumos da sucessão papal. Com sua morte, o mundo volta os olhos ao conclave. Do Brasil — maior nação católica do planeta — estarão presentes Dom Orani João Tempesta e Dom Sérgio da Rocha, num momento em que a América do Sul pode reafirmar seu protagonismo e apontar caminhos para uma Igreja mais plural.
Enquanto não chega este dia, recordamos a imagem de Francisco naquela tarde de chuva e silêncio, em plena pandemia, quando celebrou sozinho uma missa diante da Praça de São Pedro vazia. Sem fiéis, sem aplausos, com os olhos voltados ao céu e o coração entregue ao mundo ferido. Ali, representou toda a humanidade: sozinha, vulnerável, mas ainda capaz de rezar, esperar e amar.
Seu legado é mais que lembrança: é apelo. Que a fé não erga muros, mas construa pontes. Que a Igreja não seja trono, mas refúgio. E que sua mensagem continue viva, nas mãos de quem acredita que o amor pode — e deve — transformar o mundo.
*João Aglaylson
Vereador de Fortaleza (PT).