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“Papa Francisco: uma vida necessária”

Demétrio Andrade é jornalista e sociólogo

“Em seu papado, o argentino instaurou tolerância zero aos culpados e cúmplices”, aponta o jornalista e sociólogo Demétrio Andrade

Confira:

Mesmo com o mundo atual superlotado de variantes religiosas, notadamente no campo cristão pentecostal, a imagem do líder da Igreja Católica – inclusive pela tradição milenar, organização, capilaridade e hierarquia – ainda segue como uma grande referência para milhões de pessoas. No Brasil, os católicos representam quase 65% da população, mesmo o crescimento das igrejas evangélicas.

Por isso, a notícia da debilidade da saúde do Papa Francisco movimenta o mundo inteiro com volumosas informações. Jorge Mario Bergoglio, Papa desde 2013, hoje com 88 anos, é primeiro sumo pontífice sulamericano. Nascido em Buenos Aires, sempre foi conhecido pela humildade e pelo jeito simples e discreto, além da imensa capacidade de diálogo e coragem para se posicionar acerca de temas polêmicos. E isso aconteceu várias vezes, acendendo uma relação de amor e ódio na opinião pública.

Um dos assuntos comentados pelo Papa Francisco foi em relação aos casos de pedofilia na Igreja Católica. Em seu papado, o argentino instaurou tolerância zero aos culpados e cúmplices. Ele afirmou sentir profunda vergonha dos religiosos responsáveis por este crime, o qual considera um “pecado horrível”.

Mas não parou por aí. As mulheres receberam bem suas declarações e sua defesa de uma maior atuação feminina no Vaticano, onde não costumam ter permissão para ocupar altos cargos. “Onde as mulheres são marginalizadas, é um mundo estéril, porque as mulheres não só dão a vida, mas nos transmitem a capacidade de olhar além”.

O líder também defende o planejamento familiar natural e o uso de ‘métodos lícitos’ de contracepção, de acordo com as diretrizes religiosas: “algumas pessoas pensam – e desculpem minha expressão aqui – que, para ser um bom católico, elas precisam ser como coelhos. Não. Paternidade tem a ver com responsabilidade”. O Papa afirmou ainda que “a homossexualidade não é crime” e que as bênçãos da Igreja “são para todos”, mesmo não aceitando a união entre pessoas do mesmo sexo.

Ao mesmo tempo, ele orientou que a Igreja acolhesse católicos divorciados. Quando “o casamento não funciona é melhor se separar para evitar uma guerra mundial”. E mais: em 2015, o Papa autorizou, por meio de carta apostólica, o perdão às mulheres católicas “que tenham procurado o pecado do aborto”. Em 2017, durante um sermão matinal, ele destacou que “é melhor ser ateu do que um cristão hipócrita”, sobre católicos que seguem uma vida dupla, pregando uma coisa e fazendo outra.

Em meio a discussões acaloradas e amplificadas pela superficialidade argumentativa das redes sociais, as palavras do Papa Francisco foram interpretadas como fagulhas em barris de pólvora. Não é difícil encontrar nessas mídias declarações de pessoas classificando Bergoglio como “comunista” e inclusive torcendo abertamente por sua morte. Nada mais triste e irracional.

A Igreja Católica – em meio à atual concorrência com igrejas que nascem a torto e a direito – precisava de mais vigor e frescor nas suas concepções. O Papa trouxe leveza, abertura e um certo sentimento de modernidade ao discurso dogmático do catolicismo tradicional.

Mesmo que isso não resulte em avanços mais concretos do ponto de vista das liturgias e regramentos, as palavras do Papa têm vasta repercussão e indicam caminhos de mais lucidez, compreensão, amor e tolerância em relação às diferenças. No contexto atual, com líderes de baixíssima qualidade política e humanitária – como Trump, Netanyahu, Orbán, Bannon e Musk, dentre outros destruidores dos ideais democráticos – isso definitivamente não é pouco.

Espero sinceramente que o Papa Francisco se recupere. Contrariando os mais fanáticos, torcerei por um argentino. O mundo precisa muito dele.

Demétrio Andrade é jornalista e sociólogo

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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