“Papa sinalizou socialismo ao priorizar pobres para modernizar catolicismo” – Por César Fonseca

César Fonseca é jornalista

“A Igreja Católica, sob comando do Papa Francisco, seguiu o canto de Milton Nascimento: ir aonde o povo está”, aponta o jornalista César Fonseca

Confira:

A Igreja Católica, sob comando do Papa Francisco, seguiu o canto de Milton Nascimento: ir aonde o povo está.

Como ela tinha se afastado do povo, perdendo a corrida da fé para outras religiões, especialmente, para os evangélicos, decidiu, para se salvar do colapso, apostar no discurso da defesa do social sobre o econômico, no cenário neoliberal.

Mudou o rumo da sua história com a pregação de Franciscus, o Papa dos Pobres.

Era preciso a renovação.

A história da Igreja Católica mostra uma aventura humana de conquista de bens espirituais corrompidos pelos bens materiais.

Os bens materiais dominaram a preocupação central da Igreja, que é identificada pela sua aparência: a riqueza do ouro.

Mas, a miséria mora na sua porta.

Os miseráveis dormem nas portas do Vaticano.

Essa contradição do excesso de riqueza, de um lado, e de pobreza, do outro, encontrou um divisor de água no Papa Francisco, primeiro latino-americano no cargo.

Ele desprezou o luxo e a suntuosidade, a arrogância e a prepotência da riqueza, e foi comprar colchões e cobertores para agasalhar os socialmente excluídos dormindo na porta da Igreja em condição de indignidade.

Condenou o capitalismo e as guerras e apontou ligação umbilical entre ambos, causa e consequência.

Por isso, incomodou os poderosos, tanto no capitalismo cêntrico, no império, como na periferia, dominada pelos puxa-sacos dos poderosos, criminalizando os justos e marginalizados.

CRISTÃO NA PALESTINA CONTRA GENOCÍDIO SIONISTA
A Igreja Católica dos Estados Unidos, que vive mergulhada na riqueza do capitalismo, não gostava de Franciscus e de sua pregação contra a concentração da renda e a desigualdade social.

Franciscus foi profundamente repudiado pelos judeus sionistas que estão matando e submetendo os palestinos no genocídio.

A crise mundial se expressa no genocídio dos palestinos, condenado, veementemente, pelo Papa Francisco.

A Europa também não gostou de Franciscus.

Ele desmoralizou a hipocrisia do eurocentrismo como essência da cultura, mas que mata imigrantes e os submete ao genocídio capitalista da exploração dos povos colonizados.

A Igreja Católica europeia é avalista do eurocentrismo que Franciscus condenou, em seu apoio às guerras e à destruição econômica colonial.

O catolicismo, praticado na Europa e nos Estados Unidos, profundamente comprometido com o modo de produção burguês, explorador do trabalho, expressa a dominação imperialista do mundo.

REAÇÃO LATINO-AMERICANA
A Igreja católica revolucionária nasceria na América Latina em reação ao conservadorismo católico colonial imposto pela Europa, assim como o conservadorismo evangélico americano, de direita.

Teologia da libertação é o sinônimo da resistência revolucionária que o poder neoliberal dentro da Igreja, comandada pelo Papa João Paulo II, aniquilou.

Ambos – conservadorismos católico e evangélico – são aliados da exploração capitalista que se realiza atualmente pela financeirização, disseminando precarização econômica generalizada.

O Papa Francisco, ao contrário dos papas católicos europeus, não abençoou os conservadores, os imperadores colonizadores.

Sua alma política, o peronismo argentino, sintonizado historicamente, com a causa social como prioridade política, é anticolonial, cristianismo primitivo, de Cristo que foi assassinado por Roma, pelos fariseus.

Franciscus bateu de frente com a Igreja da elite católica do dinheiro, da suntuosidade que se expressa no Vaticano financiado pelo rentismo do Banco Ambrosiano.

O pecado da usura, abençoado por uma Igreja aliado do capital, foi atacado duramente pelo Papa Francisco.

Portanto, é no plano econômico e social, mediante posição socialista, que a influência de Franciscus perdurará, ao se colocar contra a injustiça que a prática da usura capitalista global aprofunda, generalizando a miséria social.

LUTA DE CLASSE NA IGREJA PÓS-FRANCISCUS
A luta política no Vaticano, pós-Franciscus, será a da Igreja dos pobres versus a Igreja dos ricos.

Ideologicamente, igreja de direita x igreja de esquerda, radicalizadas na guerra imperialista tarifária, desatada pelo capitalismo americano em crise.

A luta de classe se transferiu para dentro da Igreja, com a polarização política: a pobre x a rica, sob comando do Papa latino-americano dos pobres.

Sobretudo, a economia política professada pelo Vaticano, no reinado de Franciscus, foi antineoliberal.

Os neoliberais levaram a economia capitalista à anarquia e desordem total; por isso, foram suplantados pela China, cuja economia política é socialista.

O socialismo é incompatível com o neoliberalismo pregado pela Igreja dos ricos.

Franciscus repudiou o modelo neoliberal que faliu na guerra tarifária de Donald Trump.

Indiretamente, portanto, Francisco estava na trilha do modelo chinês e não do modelo americano, que mergulhou em crise, perdendo a hegemonia global.

Pragmático, Franciscus, já estava apostando no modelo que está dando certo, o modelo chinês.

BATALHAS IDENTITÁRIAS PERDIDAS
Certamente, o Papa Francisco perdeu as batalhas por uma modernização radical das bases do catolicismo.

O conservadorismo católico conseguiu preservar o celibato, não reconheceu o direito de igualdade entre homens e mulheres na celebração do culto, ficou engasgado com a cruzada contra a pedofilia e a corrupção, enquanto mantém resistências a liberdade para os homossexuais se casarem entre si.

Os choques relativamente aos problemas identitários, no entanto, ocorrem não apenas no catolicismo, mas em todas religiões do mundo, que ainda não se libertaram inteiramente da cultura do negacionismo medieval.

Não seria, portanto, o Papa Francisco quem deixaria inteiramente pacificados tais conflitos que se estendem ao longo da história.

O mérito maior de Franciscus é outro: está no discurso social que confronta os interesses capitalistas, da financeirização especulativa, da usura global, no cenário em colapso do neoliberalismo.

A luta política latino-americana, a partir de agora, era pós-Franciscus, tem diante de si o desafio ideológico essencial: neoliberalismo, a destruição, ou anti-neoliberalismo, a libertação.

César Fonseca é repórter de política e economia, editor do site Independência Sul-Americana

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