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“Papai Noel é brasileiro”

Maurício Filizola é empresário e diretor do Sincofarma/CE

Com o título “Papai Noel é brasileiro”,eis artigo de Maurício Filizola, empresário e diretor do Sincofarma-Ceará. Ele destaca premiação de Vini Jr. como o melhor jogador do ano, na avaliação da FIFA.

Confira:

Até Papai Noel já sabe: no Brasil, se a seleção vai mal, a nação não vai bem. Já se a seleção for bem, a nação pode até ir mal, mas o ufanismo nos embriaga, e fica tudo certo.

Ciente disso – e da má fase da nossa canarinho, que não ganha mais nem da Venezuela – o bom velhinho (desconfio) se infiltrou na FIFA e, na última terça-feira (17), em Doha, “presenteou” os brasileiros colocando três nomes nossos entre os “The Best 2024”: Vini Jr., Marta e o menino Gui.

Vini foi, finalmente, escolhido como o melhor jogador do mundo. Marta, como o gol mais bonito de 2024 e Gui, como o melhor torcedor. Mas, como o essencial é sempre invisível aos olhos, nem mesmo aquela noite de gala foi capaz de traduzir as histórias de superação que estão por trás das trajetórias dos três vencedores agraciados.

Marta representa a resiliência da mulher brasileira, com ênfase nas bravas meninas nordestinas, e cuja carreira foi diversas vezes ameaçada pelo preconceito, pelo machismo, pela misoginia, doenças sociais que são a base da cultura da violência que, somente em 2023, matou quase 1.500 mulheres no país, uma a cada 6h.

Vinícius Júnior, além de carregar a ginga, a plástica, a criatividade autênticas do futebol brasileiro (daquele aprendido com pés descalços, forjado nas ruas íngremes e ignoradas dos morros e favelas para aonde é empurrada nossa gente pobre), também traz na alma os suplícios do racismo incrustrado na sociedade, dentro e fora do Brasil, dentro e fora de campo. Vini, contudo, transformou seu sofrimento em causa, sua arte, em arma e sua fama em intolerância contra os repugnantes racistas. Porque isso é o que também se espera de um grande artista.

Mas, com o prêmio de terça, a FIFA também revelou para o mundo a história do garoto Guilherme Gandra, o menino Gui. Ele sofre de epidermólise bolhosa, doença rara na pele, que gera feridas no corpo, mas que não o impede de, no coração, amar o futebol, de ir aos estádios, de idolatrar o Vasco e, com tudo isso, ter inspirado a Lei Gui (Lei 10.142), sancionada no Rio de Janeiro, após o drama de Guilherme ter vindo à tona, e que garante pagamento de pensão e o custeio de medicamentos, curativos e outras despesas a portadores da mesma enfermidade do guri.

O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que, no futebol, o pior cego é o que só vê a bola. De fato. No Brasil, esse esporte é muito mais do que a disputa em campo. É a representação dos dilemas de uma sociedade. É uma oportunidade de ascensão social. É o grito de protesto dos invisíveis.

Como Vini, como Marta, como Gui.

Que agora representam os nossos melhores produtos “tipo exportação”: o talento e a superação.

Dito isto, obrigado FIFA, valeu Papai Noel e Feliz Natal!

*Maurício Filizola

Empresário e diretor do Sincofarma-Ceará.

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