“Partidos direitistas vencem eleição na Alemanha, mas se afastam no parlamento” – Por Luiz Henrique Campos

Confira:

As manchetes apontam a vitória da direita no parlamento da Alemanha nas eleições de domingo com os partidos União Democrata-Cristã (CDU-CSU) e Alternativa para Alemanha (AfD) conquistando 28,6% e 20,8%, respectivamente, dos 630 assentos em disputa. Em terceiro ficou o Partido Social Democrata (SPD), do primeiro ministro Olaf Scholz, com 16,41, e em quarto, os Verdes, com 11,6%. Mas apesar do aumento dos votos nos partidos conservadores em relação aos últimos pleitos, é preciso calma para não se comprar as manchetes pelo seu valor de face e achar que a direita comandará de forma unida os destinos dos alemães.

O primeiro aspecto a ser levado em conta, é que apesar da votação expressiva, é preciso definir como se posicionam os partidos vencedores, para de fato, cravar uma vitória direitista. Nesse sentido, já temos aqui uma divisão quase insanável, tanto que a CDU já descartou a participação da AfD no governo. Como para governar, o líder da CDU, Friedrich Merz, provável sucessor de Scholz, terá a missão de formar uma coalizão, precisará buscar apoio justamente nos Verdes e em parlamentares eleitos que apoiaram o chanceler Schoz.

É interessante notar em relação aos dois partidos de direita vencedores, que suas diferenças não são poucas, o que os torna adversários tanto nos campos internos, quanto externo. No caso da AfD, o partido tem como líder Alice Weidel, que se tornou popular entre os jovens no Tik Tok. Como ideias, a AfD propõe a saída da União Europeia, a volta do marco alemão no lugar do euro como moeda nacional, o reestabelecimento de relações com a Rússia, a desativação de usinas eólicas e uma política de “remigração” — com deportação de cidadãos alemães baseado nas suas etnias.

Críticos apontam para ligações da AfD com ideologias nazistas e em seus comícios, a líder é recebida com cartazes que dizem “Alice für Deutschland” — slogan que se assemelha ao da Alemanha nazista “Alles für Deutschland” (“Todos Pela Alemanha”). Coincidência ou não, recebeu apoio declarado de Elon Musk. Já o programa eleitoral da CDU e do conservador da Baviera, a CSU, bloco que conquistou a maioria no parlamento, caracteriza-se por posições conservadoras, liberais e sociais-cristãs, propondo limitar a imigração irregular. O fortalecimento da economia é igualmente fundamental, prometendo aos empresários, reduzir a carga tributária das empresas para um máximo de 25%. Os benefícios sociais devem ser revisados e possivelmente cortados. Mais dinheiro deverá ser disponibilizado para a defesa.

Há no entanto um ponto de discordância geopolítico entre CDU e AfD que tende a tensionar e torná-los cada vez mais distantes. Enquanto a CDU quer o fortalecimento da Europa, isolando Trump e Putin, principalmente em relação ao posicionamento quanto ao conflito na Ucrânia; a AfD quer o alinhamento com o xerife do mundo e mantém excelentes articulações com Moscou. Aliás, há quem diga que a aproximação da AfD com Putin, é na mesma medida que se dá com a extrema esquerda alemã, mostrando que na política, a tese da ferradura, de que os extremos se atraem, é perfeitamente plausível.

De resto, como a Alemanha é a maior economia da Europa, será importante acompanhar os movimentos a serem produzidos pelo resultado das urnas do último domingo, principalmente ao se levar em conta que os dados econômicos do país apontam retração em 2024, segundo ano consecutivo.

*Luiz Henrique Campos

Jornalista e colunista. 

Luiz Henrique Campos: Formado em jornalismo com especialização em Teoria da Comunicação e da Imagem, ambas pela UFC, trabalhei por mais de 25 anos em redação de jornais, tendo passando por O POVO e Diário do Nordeste, nas editorias de Cidade, Cotidiano, Reportagens Especiais, Politica e Opinião.

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