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“Paulo Freire e a tragédia da educação brasileira”

João Arruda, professor aposentado da UFC e sociólogo. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Paulo Freire e a tragédia da educação brasileira”, eis artigo de João Arruda, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará e sociólogo. Ele critica o queseriam consequências negativas do métodoPaulo Freire de ensino no País. 

Confira:

Tenho uma firme convicção, sustentada por evidências irrefutáveis, de que a educação brasileira, há tempos, vem sendo vítima de um planejado processo de deterioração, produzindo anualmente um grande exército de analfabetos funcionais. Essa constatação, por sinal, é de uma obviedade ululante. Independentemente dos critérios utilizados para avaliar a qualidade do sistema educacional brasileiro, os resultados revelam-se sistematicamente desastrosos. E isso ocorre em todos os níveis educacionais, da alfabetização ao ensino superior.

Comecemos pelos resultados obtidos na avaliação realizada pelo mundialmente respeitado PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Segundo dados divulgados pelo Portal G1, em 5 de dezembro de 2023, referentes ao desempenho de alunos de 15 anos de idade nas áreas de matemática, leitura e ciência, do ano-base 2022, certame que contou com a participação de 81 países, o nível dos nossos alunos é simplesmente vergonhoso, denunciando em mais uma avaliação a dolorosa realidade da educação brasileira. Em todas as áreas avaliadas, nossos alunos obtiveram notas muito abaixo das médias registradas pelos países da OCDE.

Vejam com atenção o tamanho da tragédia. Entre os alunos brasileiros com 15 anos de idade, recém-saídos do ensino fundamental II, 73% apresentaram desempenho abaixo do nível 2 em matemática. Isso significa que eles não conseguiram realizar operações simples, como converter o valor do dólar para o real, ou comparar as distâncias percorridas por um carro em dois caminhos diferentes. Em relação à leitura, 50% dos estudantes não possuem a habilidade de compreender um texto, identificar sua ideia principal ou localizar informações explícitas. No campo das ciências, 24% são incapazes de explicar a ocorrência de fenômenos simples.

Já no PIRSL – Estudo Internacional de Progresso em Leitura -, programa iniciado em 2001 e que objetiva avaliar o nível de compreensão leitora de estudantes do 4º ano de escolarização, o desempenho dos nossos alunos também foi catastrófico. Esse ano de escolarização foi escolhido porque ele corresponde ao momento, na trajetória escolar, em que os estudantes geralmente já consolidaram o seu aprendizado em leitura e, assim, transitam do aprender a ler para o ler para aprender. Participando pela primeira vez em 2021, o Brasil alcançou uma pontuação vergonhosa, obtendo 419 pontos, ficando na 58ª posição entre os 65 países participantes.

Em relação ao ensino universitário, a tragédia continua. Ao analisarmos o ranking das 100 melhores universidades do mundo, utilizando critérios como reputação acadêmica, citação por corpo docente, reputação das pesquisas produzidas pelos professores e número de citações da universidade em pesquisas acadêmicas, as universidades brasileiras se destacaram pela vergonhosa ausência. Quando o critério utilizado é o número de Prêmio Nobel recebido por professor pesquisador, em seus 122 anos de existência, a situação é ainda mais preocupante, com nossos professores não tendo conquistado um só Prêmio, nem mesmo em parceria com pesquisadores de outras universidades estrangeiras.

Diante desses degradantes indicadores surge um questionamento inevitável, uma pergunta que não quer calar: como justifica um país detentor da 10ª economia do mundo e que investe mais de 6% do PIB em educação, número ligeiramente superior à média dos países da OCDE, continuar ostentando uma das piores qualidades de ensino do mundo? Algo muito grave deve estar ocorrendo no nosso sistema educacional.

Tenho certeza de que esse péssimo resultado é produto do perverso processo de ideologização e do aparelhamento sofrido pelo nosso sistema educacional nos últimos 40 anos, período em que a transmissão dos conteúdos programáticos passou a ser substituída pela “ética do ensinar certo” de Paulo Freire. Tendo uma visão maniqueísta da sociedade, Paulo Freire, em toda a sua vasta e repetitiva obra, reafirma as asneiras do marxismo vulgar, reduzindo a complexidade das relações sociais a uma mera relação entre opressores e oprimidos. Em resumo, ele parte da premissa básica de que o homem é um ser inconcluso e que no seu processo de desenvolvimento social ele passa a incorporar os valores e preceitos das classes opressores, passando a agir, sentir e pensar como opressor.

Coerente com essa visão simplista da sociedade, e fortemente influenciado pela revolução cultural proletária chinesa, Paulo Freire, em seu projeto pedagógico, fez da opressão e de suas causas objetos da reflexão dos oprimidos, sendo esse, portanto, o objetivo maior da educação. Nesse projeto pedagógico, hoje hegemônico em nosso país, o pensar certo é aquele que desperta no aluno uma consciência de repúdio a toda forma de opressão, desenvolvendo uma consciência crítica capaz de eliminar o opressor que se encontra “hospedado” no aluno oprimido.

Paulo Freire, o atual patrono da educação brasileira, defendia abertamente a politização da sala de aula, estimulando nos alunos uma consciência anticapitalista e revolucionária. Para ele, a missão do professor era o de desenvolver no aluno uma consciência crítica, transformando-o em um agente da práxis revolucionária. A sua conclamada ética humanista era tremendamente contraditória. Inspirado também na revolução cultural proletária chinesa e nos ensinamentos de Che Guevara, ele dizia que assassinar um inimigo opressor era perfeitamente justificável. Vejam a joia do seu ensinamento ético: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”.

E Paulo Freire nunca omitiu os objetivos últimos da sua pedagógico. No seu livro Pedagogia da Autonomia, ele diz claramente:” Sou professor a favor da luta contra qualquer forma de descriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais, sou professor contra a ordem capitalista”. Há aqui uma forte deturpação do papel da escola e do professor defendida por Paulo Freire. Ele simplesmente confunde o papel da escola com partido político e o papel do professor com a do militante partidário.

Quando cursei as disciplinas pedagógicas durante o meu curso de licenciatura, no início dos anos 70, aprendi com os meus mestres que o professor, como qualquer cidadão, tinha a liberdade de professar sua ideologia, seus valores, sua religião, mas não tinha o direito de doutrinar seus alunos, de usar a sua autoridade de cátedra para impor, ao corpo discente, as suas convicções políticas e ideológicas, de transformá-lo em um militante político. Nesse período aprendi que o professor tinha a obrigação ética de conviver com as divergências e que a sua sagrada missão era a de transmitir ao aluno, de forma didática, os conteúdos programáticos, de desenvolver o potencial cognitivo dos alunos, de estimular o desenvolvimento de um pensamento crítico e o gosto pela pesquisa.

Mas agora os tempos são outros. A educação passou a ser um ato de intervenção no mundo a serviço da causa dos oprimidos. Como ensina Paulo Freire, o necessário é que o educando mantenha vivo em si o gosto da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade de se arriscar, de se aventurar, imunize-o contra o poder da alienação opressora.

Mas, como nada é tão ruim que não possa piorar mais ainda, nos últimos 20 anos a deseducadora pedagogia freiriana foi reforçada com os intolerantes ideais do “politicamente correto” e das políticas identitárias, tornando a educação brasileira mais caótica e vazia do que nunca. Concluindo minha reflexão, parafraseando a existência ameaçadora da saúva no Brasil, chego a conclusão de que, ou a Brasil acaba com a pedagogia freiriana, ou ela acaba com o Brasil.

*João Arruda

Professor aposentado da UFC e sociólogo.

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Respostas de 3

  1. A educação brasileira está cada dia mais definhando.. O sistema precisa ser mudado urgentemente!!!
    Paulo Freire, o pai da incompetência educacional, o grande responsável por essa grande crise na educação!!

  2. O excelente artigo do meu amigo e professor universitário, o sociólogo João Arruda, em relação ao pedagogo Paulo Freire ; é sem dúvida uma reflexão política-institucional.

    A educação básica precisa ser cidadã, contudo, a ponte com o mercado de trabalho. Forte abraço ao jornalista Eliomar de Lima.

    Luiz Cláudio Ferreira Barbosa é diretor-executivo da Consultoria LCFB

  3. O ensino nas escolas e universidades brasileiras é repleto de precariedades. Via de regra, péssimo. O futuro do país é sombrio e será muito difícil reverter o desastre pedagógico criado por discípulos de ideólogos como Paulo Freire. As futuras gerações pagarão um preço altíssimo em sofrimento e pobreza. O Brasil seguirá sendo uma periferia de miséria material e cultural, o que é do interesse dos que defendem a divisão social para perpetuar seu poder político.

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