“PÊ-EFE E OVO” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera, o contador de histórias. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “PÊ-EFE E OVO”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto urbanista, escritor e artista plástico. 

“Se Spa é lugar onde se passa fome, eu moro em um!” (Asclepíades Juremal)

Confira:

Abordado por um vendedor de pê-efe em um pequeno e sortido estabelecimento no Buraco da Gia, no Centro de Fortaleza, perguntei o preço do prato. Brincando, naturalmente, ele respondeu com outra pergunta: “O de loiça, de vrido ou de prástico?”

Para quem não sabe, pê-efe significa “prato feito”, geralmente um almoço comercial. Com cerca de 841 gramas e 1.656 kcal, é uma refeição montada segundo o gosto do dono do restaurante, que costuma unir o tradicional e brasileiríssimo feijão com arroz a alguma mistura – linguiça, carne moída, bife ou frango – e uma salada. Confesso que passei muito tempo achando que a “mistura” fosse a guarnição. Só depois percebi que era a proteína.

Também disponível na versão marmita, o pê-efe é popular em todo canto e segue a lógica do “prato do dia”, cujo cardápio varia conforme a região e o dia da semana.

Falando nisso, deu-me fome e lembrei de quando, esperando atendimento na Pizzaria da Leyde, no Bairro Carlito Pamplona, vi um cidadão pedir uma pizza para viagem. Ele estava sozinho, e Leyde perguntou se a pizza deveria ser cortada em quatro ou seis pedaços. Ele pensou, ponderou e respondeu: “Tesouro, corte em quatro. Não tô com fome pra comer seis pedaços, não.”

O pão com ovo, por sua vez, é uma iguaria criada pelos menos favorecidos financeiramente. É a escolha certa quando bate aquela fome danada e não há nada mais para comer. Tudo o que você precisa é de um pão d’água ou sovado, um ovo, manteiga, azeite ou óleo comum, e sal.

Para preparar, esquente a caçarola, com cuidado para não queimar os dedos. Coloque um pouco de manteiga, azeite ou óleo, e frite o ovo ao ponto desejado – gema mole ou dura. Salgue a gosto. Se quiser estrelado, cuide para não estourar a gema; se preferir mexido, misture clara e gema. Sirva quente.

Por fim, na década de 1980, Chico levou Caetano à casa de Fagner, no Rio de Janeiro, para selarem a paz e firmarem uma parceria musical. Estavam presentes também Roberto, Erasmo e Gil.

Durante a madrugada, Caetano sentiu fome. Fagner, ao abrir a geladeira, encontrou apenas um ovo e o estrelou na manteiga para o baiano. Roberto comentou: “Bicho, vocês brigando, mas quem te vê fazendo um ovinho, hein?” Uma discussão começou entre Caetano e Fagner. Este disse: “Ó, meu irmão, tem só esse ovo. Vai querer comer?!” E ele comeu.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

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Uma resposta

  1. Bateu a fome e a vontade de comer 6 pedaços.
    Confesso que passei muito tempo achando que a “mistura” fosse a guarnição. Só depois percebi que era a proteína.

    Eu também só soube por conta de nossa antiga secretária ANITE, a quem rendo homenagens.

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