“Pelos filhos? Fazer mais” – Por Flaminio Araripe

Flamínio Araripe é jornalista e pesquisador.

Com o título “Pelos filhos? Fazer mais”, eis artigo de Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador. Ele aborda a repercussão da minissérie “Adolescência”, em exibição pela Netflix.

Confira:

Por que a minissérie “Adolescência” toca na sensibilidade das pessoas? Seja no trabalho, entre amigos e familiares, tudo mundo comenta. Lidera a audiência na Netflix Brasil.

É o tipo de produção audiovisual difícil de abordar na imprensa sem antecipar o conteúdo. Se começo a falar, já entro no spoiler. Portanto, estão avisados…

O argumento para a série inglesa em quatro episódios surgiu da leitura de notícias da imprensa – assassinatos de adolescentes cometidos por adolescentes na Inglaterra. O tema sensibilizou o ator Stephen Graham, que fez o primeiro rascunho do drama, transformado em roteiro escrito por ele em co-autoria com Jack Thorne. Direção de Philip Barantini.

O veterano Stephen Graham, que encena o pai do adolescente Jamie – Owen Cooper, estreante nas telas e brilhante no papel -, é um dos excelentes atores da minissérie. Construídos em sequências longas, cada episódio não deve ter dado muito trabalho na hora da montagem ou edição, que juntou os pedaços longos, densos em realismo e tensão emocional.

A essa altura, todos que passaram a vista no noticiário pela imprensa ou redes sociais, ou escutaram os tititis de quem viu “Adolescência”, já sabem a sinopse. É a história de um menino de 13 anos que é preso por matar uma adolescente da mesma idade, a facadas. O garoto tirava boas notas na escola, comportamento normal, se relacionava bem com a irmã e os pais. O pai procurava “fazer tudo” por ele, deu até celular e computador. Imaginava que o filho, trancado no quarto, acordado até a madrugada, estava seguro.

Se for resumir o filme e o impacto que ele deixa nos espectadores, pergunto apenas “o que fazer pelos filhos?” e a resposta é curta: “fazer mais”. Nada de julgar os pais, apenas de propor que sejam criativos em estabelecer na sua rotina um pouco mais de doação, coragem no ato de se entregar ao estabelecer vínculos afetivos reais. Conversa, não apenas blábláblá.

Um exemplo no sertão

Abro um parêntese para apresentar como modelo de pai um sertanejo cearense estabelecido em Pio IX, Piauí, Sr. Pedro Marco, 80 anos, aposentado pelo Funrural com sua esposa, Bedega. Os dois são vitoriosos na criação dos cinco filhos, que ainda pequenos os acompanharam na mudança para o Crato, onde trabalharam no sítio de meu pai Jósio Araripe.

Pedro e Bedega voltaram para Pio IX, moradores da fazenda Condado que era de meu avô, Antônio de Alencar Araripe. Saíram da propriedade depois que passou às mãos de novo dono e se estabeleceram numa pequena gleba rural perto da cidade. Uma filha que mora em São Paulo construiu a casa deles, e acompanha a vida dos pais por um monitor de vídeo que botou no poste de luz em frente à casa deles. Do outro lado do asfalto, em frente à casa dos pais, outra filha construiu sua casa.

Um filho montou um bar num terreno vizinho e está sempre por perto, em contato com os pais. Os cinco filhos estão ligados aos pais e os pais ligados aos filhos – Joaquim, Ostionato (Ostim), Iolanda, Elania e Elizangela.

Vínculos verdadeiros, construídos quando crianças. Um casal que enfrentou a desafiadora peleja de vida de trabalhadores rurais mas que soube criar a família e conquistou a grande vitória na vida que é o amor e a dedicação dos filhos.

Na minissérie, a Internet não é mostrada, nem criticada de forma direta. Mas surge como o veículo das mensagens que corroeram a estrutura psicológica do adolescente a ponto de levá-lo a cometer um crime. As bigtechs faturam alto, alimentam o vício e transmitem o bullying, tudo conforme a liberdade de expressão que os tecno-oligarcas e seus serviçais no poder tanto defendem.

*Flamínio Araripe

Jornalista e pesquisador.

COMPARTILHE:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Email
Mais Notícias