Com o título “Piauí inova, Ceará se move: caminhos da IA na educação”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec. “No Ceará, estado historicamente reconhecido por seus avanços na educação, a experiência do Piauí lança um convite: o de ampliar os horizontes da inovação pedagógica. Temos redes de ensino bem estruturadas, escolas conectadas e um corpo docente qualificado”, expõe o articulista.
Confira:
Em tempos de transformações tecnológicas vertiginosas, o Piauí surpreende ao protagonizar uma política educacional inovadora: incluir o ensino de inteligência artificial (IA) no currículo da rede pública estadual. Trata-se de um movimento ousado, especialmente num país onde os debates sobre tecnologia nas escolas públicas costumam esbarrar em desigualdades estruturais, falta de conectividade e ausência de políticas formativas. O que o governo piauiense fez foi mais do que introduzir uma nova disciplina — foi assumir, de forma estratégica, que a educação básica precisa preparar jovens não apenas para o futuro do trabalho, mas para a cidadania em um mundo mediado por algoritmos.
O currículo de IA abrange desde os conceitos básicos de automação e machine learning até discussões éticas sobre o uso de dados e o impacto dessas tecnologias na vida cotidiana. A experiência, iniciada em 2023, tem como público-alvo estudantes do ensino médio e é aplicada com apoio de parcerias técnico-pedagógicas, como a da Huawei e de universidades locais. Com isso, o Piauí passa a ser o primeiro estado do país a sistematizar o letramento digital e computacional com ênfase em IA dentro da escola pública. A lição que o Piauí oferece é clara: é possível, sim, transformar a escola pública em ambiente de inovação, desde que haja vontade política, planejamento e uma aposta no protagonismo estudantil.
No Ceará, estado historicamente reconhecido por seus avanços na educação, a experiência do Piauí lança um convite: o de ampliar os horizontes da inovação pedagógica. Temos redes de ensino bem estruturadas, escolas conectadas e um corpo docente qualificado. Nesse sentido, uma das iniciativas mais promissoras é o Projeto Educatech IA, que o Instituto Centec desenvolve – – em parceria com a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC). O objetivo da ação é conectar os professores da rede profissional ao universo das potencialidades e riscos da inteligência artificial, inserindo o tema nas práticas pedagógicas. É uma estratégia de política pública inovadora para aproximar a escola do presente — preparando-a para o futuro.
Ao fazer da inteligência artificial uma linguagem comum no cotidiano escolar, o Ceará, ao apostar na formação de professores multiplicadores, pode não apenas manter sua posição de liderança educacional, mas também protagonizar uma virada tecnológica inclusiva — onde jovens da periferia e do interior sejam habilitados não só para consumir tecnologia, mas para criá-la,
questioná-la e transformá-la. O que está em jogo não é apenas ensinar a lidar com algoritmos, mas garantir que nossos jovens possam escrever seus próprios códigos — nos dispositivos eletrônicos e na vida.
*Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e presidente do Instituto Centec.