Com o título “Política de absurdos”, eis artigo de Fátima Vilanova, escritora e doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. “Já imaginou, no mesmo dia, o cidadão votar em vereador, prefeito, governador, deputado estadual, deputado federal, senador e presidente da República? Se aprovado este despropósito, nossa democracia, que já é um arremedo, vai ficar pior”, expõe a articulista.
Confira:
Os absurdos da política acontecem diariamente. O mais recente diz respeito à reforma política, que visa acabar com a reeleição para o Executivo, instituir mandato de cinco anos, e unificar as eleições para realização num único dia. Já imaginou, no mesmo dia, o cidadão votar em vereador, prefeito, governador, deputado estadual, deputado federal, senador e presidente da República?
Se aprovado este despropósito, nossa democracia, que já é um arremedo, vai ficar pior. Hoje, quase ninguém lembra do candidato em quem votou para deputado federal, imagina com tal reforma. Os eleitos serão ainda menos acompanhados, cobrados e fiscalizados. A discussão sobre os problemas da população, também, ficará comprometida, porque as questões nacionais terão prevalência sobre as municipais, e estadual. Além disso, tanto tempo, de cinco anos, para voltar às urnas gerará mais distanciamento e apatia da população em relação à política.
Qual o verdadeiro sentido das mudanças propostas? Aumentar o tempo no poder, de quatro para cinco anos, de prefeitos, governadores e presidente, já que eles não poderão se candidatar à reeleição e de todos os demais. Apenas isso, sede de poder, que raramente tem sido para servir, mas para servir-se do poder, por mais tempo. Que vergonha. Acabar com a reeleição constitui uma necessidade, porém, mantendo os quatro anos, com eleiçõesintercaladas, como acontece hoje, a cada dois anos. E o fim da reeleição precisa ser, também, para o Legislativo. Um mandato para todos, ou, no máximo, de dois.
As mudanças, realmente, necessárias passam ao largo das discussões. Reduzir o número de mandatos dos políticos constitui o caminho para que a política deixe de ser vista e exercida como meio de vida, como emprego, como profissão. Isto acaba por gerar os vícios da política: abusos de poder, desmandos, corrupção. A política seria alcançada a um novo patamar: o de missão, com tempo definido de duração, com o objetivo de servir.
Outra mudança necessária seria o impedimento dos eleitos para o Legislativo de assumirem cargos no Executivo, pelo conflito de interesse que isto representa, já que se elegeram para legislar e fiscalizar o Executivo. A proibição de lotear a máquina pública com apoiadores de candidatos é outra providência que se impõe, ficando a administração a cargo de profissionais de carreira.
Urge que a sociedade brasileira se manifeste, discuta estas questões, cobre dos partidos, dos que se lançam na vida pública, compromisso com propostas que alterem a situação degradada da política, para aperfeiçoar a democracia, fazer avançar a cidadania, mediante a redução do poder dos políticos, em benefício de demais.
*Fátima Vilanova
Doutora em Sociologia (UFC) e autora do livro: “Está tudo errado…” (Disponível na Amazon).
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