Com o título “Política industrial do Ceará necessita de atualização”, eis o artigo do economista Alex Araújo. Confira:
O Ceará enfrenta um cenário desafiador na indústria de transformação tradicional, em particular têxtil e calçados. O fechamento da fábrica da Guararapes, em janeiro de 2023, com a perda de cerca de dois mil empregos e o recente anúncio da queda de empregos no setor calçadista (quase 2,5 mil empregos entre janeiro e novembro de 2023, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) mostram que é necessária alguma correção de rumo em nossa política industrial.
A indústria de transformação tem perdido espaço na composição do PIB do estado e isso preocupa porque o emprego industrial transcende o simples aspecto quantitativo de oferecer trabalho para a população. A indústria desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico de um país ou região, pois setores industriais robustos contribuem significativamente para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao gerar riqueza e estimular o investimento.
Além disso, os empregos industriais muitas vezes oferecem salários mais elevados em comparação com outros setores, proporcionando uma fonte mais substancial de renda para os trabalhadores, e, muitas vezes estão associados a atividades que exigem habilidades técnicas avançadas, promovendo a educação e o treinamento especializado. Isso não apenas melhora o padrão de vida dos indivíduos, mas também impulsiona a inovação, o consumo e a demanda por bens e serviços.
No caso cearense, a política industrial foi essencial para o incremento da infraestrutura, cabendo citar o Complexo Portuário do Pecém, a integração das bacias hidrográficas, além de rodovias e diversificação energética. Os benefícios da expansão da infraestrutura tiveram ganhos sociais óbvios, contribuindo para o crescimento regional e para a criação de comunidades mais prósperas.
A crise atual da indústria local está muito relacionada com a perda de competitividade provocada por mercados globais cada vez mais integrados. Nas últimas três décadas a produtividade industrial brasileira esteve estagnada, cenário que se repetiu no estado. Diante de competidores globais, principalmente asiáticos, nossos produtos são mais caros ou com menos atributos inovadores.
Ademais, a ascensão recente das plataformas de comércio eletrônico, com o AliExpress e a Shein, introduziram componentes desiguais de competição, como a venda direta ao consumidor nacional com carga tributária inferior ao produto local. Tais produtos estão desorganizando diversas atividades econômicas, como confecções e o comércio varejista.
É preocupante não ouvir nos discursos oficiais medidas para enfrentar tais problemas, sendo dominante a ênfase dada a novas indústrias. Há muito que não temos um esforço ativo de promoção do produto local nos mercados internacionais ou preparação para a melhoria de competitividade das indústrias tradicionais, dando a impressão que impera uma visão extremamente liberal de que o fechamento de empresas é um fenômeno natural e que o mercado irá corrigir o problema de realocação dos trabalhadores.
Deveríamos, ainda, incluir na agenda de interlocução com o Governo Federal, as questões das medidas de desoneração do emprego, bem como a focalização de recursos para promoção e investimento em inovação tecnológica, com foco no aumento de competitividade da indústria, com ganhos de eficiência e melhoria da qualidade dos produtos.
A perda significativa de empregos na indústria do Ceará é um alerta para a necessidade de revisão e aprimoramento das estratégias industriais do estado. A implementação de medidas corretivas, como a intervenção na área de comércio exterior, desoneração da folha de pagamento e estímulo à inovação tecnológica, são passos cruciais para preservar empregos, fortalecer a competitividade e garantir a sustentabilidade da indústria cearense.
Alex Araújo é economista