“Política privatizada” – Por Fátima Vilanova

Fátima Vilanova é doutora em Sociologia pela UFC. Foto: Arquivo Pessoal

“A política no Brasil, que deveria ser uma atividade com fins públicos de promoção do bem comum, virou negócio rentável para a promoção de interesses privados, de parlamentares e de suas famílias”, aponta a socióloga Fátima Vilanova

Confira:

Privilégios, privilégios, privilégios. Para quem? Para os políticos, com toda certeza, nunca para o cidadão, nunca para o contribuinte. O que acontece no Ceará? Os parlamentares acabaram de aprovar um auxílio-saúde. Para quem? Para a população? Não, para os políticos, para eles próprios, os deputados estaduais, ex-deputados e pensionistas. Falta de compostura, dignidade. Eles não têm sensibilidade em relação a isso, estão pouco preocupados com o que pensa a população sobre este auxílio-saúde imoral. Apostam no esquecimento do grande público, o que interessa é tirar proveito na política. Uma desfaçatez completa.

O plano de saúde do ISSEC (Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do Ceará) atende os servidores estaduais. O que acontece? Um segurado, quando precisa marcar uma consulta, tem que esperar até dois meses por um atendimento. Por quê? Porque faltam profissionais em número suficiente para atender à demanda. Os deputados não pensam em melhorar o ISSEC, em pressionar o governo por investimentos. O ISSEC deveria ser o plano de saúde dos próprios deputados. Quem não quisesse, que pagasse um plano particular, do seu bolso. Não, isto eles não aceitam, a sociedade é que tem que arcar as despesas de saúde deles, de R$5.200 mensais, mesmo eles ganhando mais de R$37 mil. Um abuso completo.

A política no Brasil, que deveria ser uma atividade com fins públicos de promoção do bem comum, virou negócio rentável para a promoção de interesses privados, de parlamentares e de suas famílias, e de correligionários. Uma farra com o dinheiro público. E ninguém ouve uma palavra de condenação das práticas abusivas, criminosas, pelos partidos políticos, que viabilizam os mandatos desses parlamentares e gestores do Executivo. Reina a conivência. Os filiados, muito menos podem manifestar discordância, pois isso geraria expulsão sumária. Estamos perdidos. A quem apelar?

O prof. Antônio Carlos Fernandes entrou, mais uma vez, com uma Ação Popular, questionando a legalidade dos atos do Legislativo estadual, agora, do Auxílio-Saúde, na 13ª Vara da Fazenda Pública. O Poder Legislativo legisla em causa própria, e a sociedade aguarda a posição do Judiciário. Podemos ter esperança na reversão desta situação? Os próximos capítulos dirão. O Brasil vai de mal a pior, com a classe política que tem.

Este caos tem jeito? Tem. Porém, as mudanças necessárias não caem do céu. Ter político de estimação, também, não ajuda. A vigilância da população sobre todos os partidos e políticos é fundamental, é a base para a construção de uma política digna do nome, que inclua a todos, que não faça distinção entre as pessoas na gestão dos recursos públicos. Os desmandos, os abusos de poder, a corrupção, que todos os dias assistimos, e envergonham a Nação, não podem continuar. A democracia pede socorro.

Fátima Vilanova é Doutora em Sociologia, e autora do livro: Está tudo errado… (Disponível na Amazon)

Você pode me acompanhar no YouTube, no Programa Democracia Radical, diariamente, às 11h. Perfis: @fatimavilanova e @Josemariaphilomeno

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Respostas de 2

  1. Artigo corajoso! Como sempre!
    Outro fator importante é o silêncio da imprensa! Até desse Blog

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