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“Precisamos falar do BC do B – Parte 4”

Osvaldo Araújo é economista e professor

Com o título “Precisamos falar do BC do B -Parte 4”, eis artigo de Osvaldo Euclides Araújo, economista, mestre em Administração, ex-gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador-geral do site Segunda Opinião.

Confira:

Na administração pública é fácil observar que há uma regra não escrita e pouco percebida, apesar de óbvia: fazer o certo é demorado e complicado, fazer o errado é simples e rápido. O erro tem efeito imediato, se espalha ligeiro e pode se tornar agudo. Os acertos enfrentam forte resistência e costumam ser bloqueados, adiados, sabotados. É como se fosse uma lei, uma Lei Sem Nome.

É que as coisas certas beneficiariam as massas, que são desinformadas e desarticuladas, e, portanto, ignoradas. Os erros favorecem os poderosos, que são tão bem informados e tão bem articulados, que sinalizam: “me atenda ou me enfrente”. O gestor público tende a se acovardar e evita lutar pelo certo. E compõe-se com quem se beneficia do erro, do injusto. Essa covardia leva pedaços importantes do serviço público a se desmotivar, a se imobilizar e, eventualmente, a se corromper. Quando menos, a se acomodar e mentir ou fingir.

O Banco Central pode estar submetido a esta lei. Ele tem as mais completas condições de bem realizar seu trabalho e contribuir decisivamente para dar oxigênio e azeitar a máquina da economia brasileira, e ajudar a desenvolver o país. Estrutura moderna, pessoal qualificado, carreira estimulante, remuneração justa e aposentadoria digna. O problema é mais em cima, lá onde se localizam as portas giratórias que conectam “mercado” e a mais alta direção do BC.

Exemplo disso é o Pix. Ora, ora, a população foi levada a pensar que uma nova e criativa tecnologia foi desenvolvida. Nada disso. O Pix é só um ajuste da velha TED e do velho DOC, serviços que eram pagos pelo correntistas aos bancos. O que mudou de relevante, além do nome, e fez sucesso, é que o Pix é de graça. Não estranhe porque demorou tanto tornar o serviço gratuito. Deveria ser de estranhar que foi cobrado e pago por tanto tempo. É a lei sem nome.

E agora, o Banco Central acredita que fazendo bobagens simpáticas esconde sua mediocridade no que é relevante e que deveria ser seu foco.

O que o BC pode fazer de relevante?

Do jeito que tirou a tarifa de serviço do Pix, por que não tirar a tarifa de manutenção da conta individual? Sim, o banco cobra para “manter” a conta. Ora, ora, pense só. Não, ela não é pequena. Tarifas de “manutenção da conta” cobradas do correntista dos bancos podem chegar perto de um salário mínimo por ano. Quem sabe, até mais. A título de exercício, imagine que quase um terço da população tem conta bancária e paga tarifa de um salário mínimo por ano. Essa conta levará para o caixa dos bancos sessenta bilhões de reais. Ah…cliente graúdo não paga tarifa, é dispensado. É simples mudar este quadro de erro, de injustiça. Mais simples do que um simples Pix, se o BC quer mesmo beneficiar os mais humildes e contrariar os menos, como de fato fez com o Pix (sim, o Pix tem méritos).

Uma breve história para justificar a proposição. Quando acabou a inflação, os bancos pediram autorização para cobrar tarifas por um tempo, para cobrir despesas com pessoal (pois havia centenas de milhares de bancários que poderiam ser demitidos, porque os bancos não tinham mais os enormes ganhos com a inflação). O Banco Central autorizou. Pensava-se: esta excepcionalidade vai durar pouco. Trinta anos depois, os bancos ainda cobram, apesar de ter havido enorme demissão de bancários. E hoje tudo é automático, tudo é quase um autosserviço.

Essa tarifa de manutenção é como imposto que se paga ao banqueiro. Nem precisa ir pagar, o banco vai lá e tira da sua conta. Religiosamente. Mais automático do que um Pix.

*Osvaldo Euclides Araújo,

Economista e mestre em Administração.

https://segundaopiniao.jor.br/precisamos-falar-do-bc-do-b-parte-4/

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