Com o título “Psicopatas e tiranos”, eis artigo de Djalma Pinto, advogado, ex-procurador-geral do Estado do Ceará e escritor. Ele aborda o caso Venezuela.
Confira:
A crise eleitoral da Venezuela expõe as diversas sequelas decorrentes da falta de educação para a cidadania. Tem esta, entre os seus objetivos, conscientizar cada pessoa, a partir da infância, de que o poder político se destina, exclusivamente, à satisfação do bem comum. É efêmero. Para nele investir-se, o
indivíduo deve respeitar as regras necessárias à preservação da normalidade da disputa. Ao violar essas normas, tal como ocorre com os atletas indisciplinados no futebol, devem receber cartão vermelho e ser expulsos do certame eletivo.
O maior desafio para qualquer sociedade, que almeja a prosperidade, é conseguir proteger-se para impedir o acesso de psicopatas à sua governança. É evitar a investidura, no mandato, dos compradores de votos e daqueles que buscam alcançá-lo para maximização do próprio patrimônio.
Como livrar-se um país das garras de um tirano? Inicialmente, buscando, por todos os meios e de forma permanente, a sedimentação dos valores da justiça, da solidariedade e do respeito ao dinheiro público. Sem esses valores consolidados na mente de cada criança, o risco de tornar-se vítima de déspotas é
real. Já constatara Montesquieu ser a tirania a pior forma de governo. Lembrava a possibilidade de ser ela destruída por dentro, a partir do momento em que os cidadãos deixam de ter medo do tirano.
A desgraça das nações sob o comando de autocratas decorre do fato de não terem eles empatia, de não saberem se colocar no lugar do outro. Por isso, não sentem constrangimento algum em mandar matar, torturar e desqualificar opositores. O seu egocentrismo lhes suprime a razão, permitindo que o animal neles instalado se manifeste em todas as suas atrocidades.
Aristóteles ensinou ser o homem um animal político. É dizer, antes de sua evolução para um ser político, é apenas um animal. A ira e a predisposição para massacrar ou roubar os governados comprovam o seu estágio primitivo, sem assimilação dos valores propagados com o avanço da civilização.
A médica psiquiatra, Ana Beatriz Barbosa Silva, em seu livro Mentes Perigosas ensina: “os psicopatas não vão ao trabalho vão à caça. A política propicia o exercício do poder de forma quase ilimitada. Poucos cargos permitem um exercício tão propício para atuação dos psicopatas”.
Psicopatas ostensivos são os governantes que oprimem e matam os seus opositores. Psicopatas dissimulados seriam aqueles que não matam os seus administrados com armas tradicionais, sepultam apenas a esperança de seu povo. Roubam-lhe, por exemplo, o dinheiro destinado a suprir suas necessidades nas áreas de saúde e educação.
Em período eleitoral, com base no diagnóstico da citada profissional em psicopatologia, seria psicopata o indivíduo que, mesmo sabendo ser crime com previsão de reclusão de até quatro anos, compra o eleitor. Este vende o seu voto por ser incapaz de perceber que essa compra é feita com dinheiro roubado
dos impostos, compulsoriamente depositados por ele nos cofres públicos.
*Djalma Pinto
Advogado, autor de diversos livros, entre quais Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto; Ética na Política e Distorções do Poder.