“Não se trata mais de casos isolados, mas de um colapso evidente na segurança”, aponta o ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, César Wagner
Confira:
Noah Levi da Silva Pinheiro tinha apenas três meses. Mal aprendera a sorrir quando foi atingido por um tiro na cabeça em Serra dos Nogueiras, zona rural do Ceará. No mesmo estado, uma criança de 7 anos tombou durante um ataque a tiros no bairro Barra do Ceará, em Fortaleza, enquanto um homem também era ferido. São histórias diferentes, mas unidas pelo mesmo fio de horror: a violência que não poupa inocentes e um poder público incapaz de enfrentar a guerra declarada nas ruas e no interior.
Não se trata mais de casos isolados, mas de um colapso evidente na segurança. Enquanto autoridades empilham discursos e promessas, famílias vivem sob o som dos disparos e o medo constante. Um bebê morto no colo dos pais e uma criança assassinada diante da vizinhança deveriam ser suficientes para sacudir qualquer governo. Mas no Ceará, tragédias viraram rotina, e a indignação oficial não passa de palavras vazias.
É preciso deixar claro: não é só a bala do criminoso que mata — é a omissão do Estado. Quando o governo falha em garantir segurança, transfere para cada cidadão o peso de sobreviver sozinho. A criminalidade avança porque encontra terreno fértil na impunidade, nas investigações lentas e na falta de estratégia firme para desarticular facções que transformaram comunidades inteiras em zonas de guerra.
Até quando aceitaremos a normalização do horror? Quantos bebês e quantas crianças terão de morrer para que as autoridades tratem a violência como prioridade absoluta? O Ceará não precisa de condolências formais, mas de ação imediata. Não há desculpa possível diante de vidas tão pequenas arrancadas pela barbárie. Ou o Estado reage, ou será cúmplice da tragédia que já nos envergonha como sociedade.
César Wagner Martins é ex-superintendente da Polícia Civil do Ceará, ex-coordenador-geral da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS), ex-diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), ex-diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e ex-delegado Titular da Delegacia de Combate ao Narcotráfico. Ex-secretário de Segurança de Aracati. Formado em Direito (Unifor) e especialista em Direito Processual Penal (Unifor). Jornalista, comunicador, radialista, palestrante e consultor de empresas na área de prevenção de comportamentos irregulares