“Obra única do cinema brasileiro, o documentário Edifício Master, de Eduardo Coutinho, de 2002, segue um material precioso”, aponta o jornalista Paulo Moreira Leite
Confira:
Obra única do cinema brasileiro, o documentário Edifício Master, de Eduardo Coutinho, de 2002, segue um material precioso para um debate indispensável num país como o nosso.
Num país onde a visão política convencional ensina que o andar debaixo não tem consciência nem preparo para refletir sobre sua vida e muito menos sobre seu país, o Edifício Master constitui uma corajosa investigação em sentido contrário, de grande atualidade num país onde se costuma tratar com a consciência popular com desprezo elitista.
Ligando câmara e microfone para entrevistar dezenas de moradores de um edifício com 12 andares e 23 apartamentos por andar, totalizando 276 imóveis em Copacabana, bairro-símbolo do Rio de Janeiro e do país, Edifício Master segue uma obra indispensável para pensar o Brasil e os brasileiros.
Seu valor como pesquisa quantitativa é nulo, obviamente. Como a amostra das ideias, valores e memória social, constitui um trabalho precioso de investigação.
Este trabalho é produto de depoimentos que Coutinho conduz com astúcia e edita em estado bruto, preservando momentos preciosos, que ajudam a pensar um país inteiro a partir de um universo minúsculo e individualizado só na aparência.
Sua prioridade, aqui, não é dar as próprias opiniões nem exibir as próprias análises, mas conhecer os fatos e ouvir as ideias de cada um, num exercício de rigor e humildade para preservar a memória, a opinião e o humor de cada entrevistado.
O documentário fala tudo o que queria ao oferecer a um momento grandioso, quando exibe a cena de um morador que ouve o vozeirão de Frank Sinatra numa interpretação épica de My Way.
Está tudo ali, para quem quiser ver, ouvir e aprender.
Alguma dúvida?
Paulo Moreira Leite é jornalista e comentarista na TV 247