Confira:
Minha querida amiga jornalista Sarah Coelho, costuma usar a expressão “calma, que o universo conspira”, quando as coisas começam a se complicar e nada parece ter jeito. Acho que esse jargão serve perfeitamente para explicar o que aconteceu com o Ceará no domingo ao garantir o acesso à Série A do Brasileirão. Inicio com a surpresa em não ter Saulo Mineiro apto a jogar, anúncio feito minutos antes da peleja, em virtude de uma contusão. Ora, Saulo é o tipo do jogador que encarna o espírito do torcedor, e que apesar de aqui, acolá, fazer besteiras, dá o sangue pelo time. Os mais antigos talvez lembrem de um atacante que o Ceará teve há alguns anos, apelidado de Monga, que quando pegava na bola, baixava a cabeça e não tinha quem segurasse. Gomes Farias narrava as investidas de Monga dessa forma: “lá vai Monga, lá vai Monga, lá vai Monga….meteu”.
Se o desfalque de Saulo deixou o torcedor ressabiado, viu-se um time apático em campo no primeiro tempo. Sem brio, era como se pudesse fazer um gol quando bem entendesse, ou como se estivesse jogando apenas para cumprir tabela. Para piorar, Lourenço, uma das melhores peças do elenco, também se machucou ao final da primeira etapa. Ou seja, as coisas nunca são tão ruins que não possam piorar um pouco mais. Quase ao mesmo tempo, o Sport abria o placar contra o Santos, deixando com esse placar, o alvinegro fora da zona de classificação e ainda tendo que sofrer bullying da torcida do Guarani.
Com o jogo já se encaminhando para o desespero, o que era tido como improvável antes da partida, que era o Ceará não conseguir o acesso, estava se concretizando. Ainda mais levando-se em conta que se o Guarani não demonstrava o menor apetite para a partida, o alvinegro por seu turno mostrava um fastio fora do comum para um jogo decisivo. Eis, porém, que surge a esperança de um gol salvador já aos 37 minutos, comemoração logo abafada com a ilegalidade do lance. Pronto, depois disso, a única coisa a fazer era lamentar e aguardar mais um ano na segunda divisão, pois o time não tinha mais forças para reagir.
Mas se nada mais restava, era a vez de entrar em campo o fator conspiração do universo, aquele que brinca com o imponderável, cochicha no ouvido do acaso, e derruba toda e qualquer certeza da lógica. É o momento em que o ser humano perde a razão da explicação, porque ela divaga entre a fé, a filosofia, os astros, a mandinga, o algo a mais. É nesse instante em que nós, torcedores, jogadores e quem mais quiser se sentir contemplado, descobre que nenhuma certeza é absoluta, e que, de fato, não se questiona que verdadeiramente, “o universo conspira”.
*Luiz Henrique Campos
Jornalista.