“Quantidade ou qualidade?” – Por Marcos C. Holanda

Marcos Holanda, economista e ex-presidente do BNB. Foto: Sara Maia.

Com o título “Quiantidade ou qualidade?, eis artigo de Marcos C. Holanda, PhD em economista e ex-presidente do Banco do Nordeste. “Os desafios são grandes e não podemos negar os esforços do governo, mas ele precisa fazer uma autocrítica e ter a humildade de reconhecer que não está entregando os resultados que a população merece e, importante lembrar, paga com impostos cada vez mais altos. Gastar mais não é o caminho.

Confira:

Infelizmente, a grande maioria dos governos no Brasil operam na lógica da quantidade e não da qualidade. O que prevalece é o gastar mais e não o entregar mais. Lembro aqui o esforço do governo Lucio Alcântara de implementar a lógica da gestão para resultados onde a mensagem principal para os executivos do governo era o que entregou e não o que fez ou gastou.

Uma rápida análise da evolução dos gastos do governo do estado mostra a prevalência dos gastos sobre os resultados e demanda uma reflexão dos atuais dirigentes e de toda a sociedade. É consenso que segurança, educação e saúde são as áreas prioritárias de governo. Aqui o que importa para a população não é o que gastou, mas se a taxa de homicídio caiu, se a fila nos hospitais diminuiu, se os alunos estão aprendendo matemática e português.

Nos últimos quatro anos (2021-2024) a inflação acumulada foi de 27,7% e o PIB acumulado foi de 15,2%. Os gastos com segurança pública cresceram nesse período mais que o dobro (58,6%). Passaram de 3,045 bilhões para 4,830. Todos sabemos que os resultados em segurança pioraram nesse período. Continuar gastando mais não vai resolver esse gravíssimo problema. O caminho, como nos demais setores, é uma combinação de tecnologia, inteligência e estratégia. Um exemplo bem atual é a guerra na Ucrânia. A Rússia aplica a lógica da quantidade e a Ucrânia a da qualidade. A primeira tem três vezes mais quantidade enquanto que a segunda mais qualidade. A qualidade está ganhando.

Na educação, os números são mais impressionantes. Os gastos aumentaram mais que o dobro (120%), passando de 3,081 para 6,786 bilhões. Enquanto isso, o principal resultado que são as notas dos alunos ao final do ciclo do ensino médio continua sendo muito ruim, na verdade péssimo. Menos de 10% dos concludentes tem notas adequadas em matemática e menos de 20% em Português. Os gastos com a burocracia (administração central) cresceram o absurdo de 289%! Passaram de 255 para 992 milhões. A mensagem é clara: não é só construir mais escolas, contratar mais
professores, conceder mais bolsas aos alunos. Tem que aplicar tecnologia, inteligência, estratégia.

Na saúde, o cenário é o mesmo. Os gastos passam de 4,534 para 6,917 bilhões com crescimento de 52,5%. As filas continuam, a espera por exames continua, o atendimento continua muito ruim.

Os desafios são grandes e não podemos negar os esforços do governo, mas ele precisa fazer uma autocrítica e ter a humildade de reconhecer que não está entregando os resultados que a população merece e, importante lembrar, paga com impostos cada vez mais altos. Gastar mais não é o caminho.

Mudar a estratégia e focar nos resultados e não nos gastos, sair de um orçamento inercial para um de base zero. Usar, de forma intensa, a inteligência antes da ação. Aplicar as tecnologias mais modernas existentes mesmo que isso vá de encontro a interesses corporativos e políticos. Em um cenário onde a restrição fiscal será cada vez maior e as demandas da população cada vez mais fortes e instantâneas, não existe outra opção que não seja a boa gestão. Bom governo não tem partido, não tem cor, não tem lado. Ele apenas faz o óbvio que é tentar melhorar a vida da população.
Infelizmente, na minha experiência acumulada, aprendi que fazer o obvio no governo é tarefa dificílima.

*Marcos C. Holanda

PhD em Economia e ex-presidente do Banco do Nordeste.

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