“Que gosto o Natal tem?” – Por Mirelle Costa

Quando criança, pensava que o Natal tinha um gosto só. Os simples enfeites eram colocados na planta que ficava dentro de um jarro bem grande, de cimento. Era sempre era a escolhida pra representar a data. Semelhança com pinheiro, nenhuma. À época, eu pensava que vencer na vida seria trocar a caixa de fósforo embalada pra presente por enfeites caros e uma árvore maior que eu criança. Imaginava que coisas mudavam, não as pessoas, as pessoas, claro, continuariam ali, presentes, eternas.

Esse ano, troquei a árvore bem maior que eu criança por uma minúscula, artesanal, em madeira. O sofá que deita ocupou o espaço que seria da árvore e eu só me toquei disso quando dezembro chegou. Meu Deus, como pude esquecer o lugar da árvore? A verdade é que, quanto mais o tempo passa, mais o Natal vai marinando o gosto da saudade, igual chester no forno. Em algum momento, me pego lembrando a caixa de fósforo embrulhada em papel de presente e era ali onde eu queria estar. Queria acordar pela manhã cedinho, no dia 25, e ver uma lembrancinha, simples, em cima das minhas chinelas. Minha mãe fez isso até eu me casar e sair de casa.

Estava até meio desanimada (ou talvez, cansada), mas fiz questão de montar o presépio e colocar uma toalha natalina na mesa. Meu esposo comprou luzes bem fininhas para arrodear a manjedoura. Os hábitos clichês nos fazem lembrar quem fomos, um dia. Somente aos quarenta anos, fui entender que datas comemorativas, às vezes, machucam e, para entender, é preciso ouvir. E por falar em ouvir, o episódio mais recente do podcast Cafezim com Literatura, produzido e apresentado por mim e exibido no Youtube, traz o livro “Elos do Amor”, uma obra que reúne depoimentos de mães que perderam um filho. Evelúcia Melo, Rosângela Thevenard e Eveline Barbosa fazem parte dessa coletânea que tem como objetivo ajudar outras mães que também passam por esse luto que, de tão complexo e de tão imenso, não tem nem nome. A esposa que perde o marido torna-se viúva, o filho que perde os pais, vira órfão, mas a mãe que perde um filho precisa encontrar uma força imensa dentro de si para nominar essa perda que é impossível de ser resumida com uma única palavra. O episódio foi feito com muito carinho e respeito para todas as mães que atravessaram (ou estão atravessando) esse deserto. A nossa conversa é toda permeada pelos sinais do amor. Se você conhece alguém que precisa assistir esse programa, é só acessar no Youtube https://www.youtube.com/@CafezimcomLiteratura . O episódio também está disponível em todas as plataformas de áudio.

 

Blog do Eliomar
Rosângela Thevenard, Eveline Barbosa, eu, Mirelle Costa; Evelúcia Melo e Eduardo Callegary, proprietário do espaço onde gravamos o podcast, o estúdio Callegary

Feliz Natal, Meu Povo!

Obrigada pela companhia!

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