“Que gosto tem?” – Por Mirelle Costa

Mirelle Costa, Mirna Frota e Rafael Caneca

“Existe uma competição sobre a quantidade de livros lidos, mas eu acho que a leitura não é pra isso. A literatura me tirou de uma depressão pesadíssima em 2018. Uma das maiores lições que eles me deram é que o livro proporciona também uma conexão com as pessoas”, desabafa a servidora pública Mirna Frota. Gente, estou aprendendo tanto com o podcast Cafezim com Literatura. Quero ser ponte entre o público que quer ouvir e os convidados que têm muito a dizer.

Quero falar para não leitores também. Quantos de nós ainda não conseguimos estabelecer uma relação mais próxima com a literatura e nos envergonhamos por isso? Você se sente culpado/a por não estar lendo como poderia? Na semana passada, recebi o Rafael Caneca, escritor e responsável pelo @pacotedetextos, no Instagram, e a Mirna Frota, escritora e uma das responsáveis pelo grupo @leituras_paralelas. “A literatura muda vidas. Lendo podemos ver o que queremos que se repita e o que não queremos que se repita mais de jeito nenhum”, conta Rafael Caneca.

Lançamento da coletânea Mulheres, Livros e Vinhos – Primeira safra: doses de confidências

Acho impossível definir em palavras o significado de publicar um livro. Jogar uma obra no mundo, nesse mundo de Meu Deus, é um ato de extrema rebeldia. Eu tive a oportunidade de acompanhar e fazer parte de um grupo de mulheres que se reúne a cada mês para falar sobre Vida, é o coletivo Mulheres, Livros e Vinhos. A literatura é um pano de fundo para discussões profundas, permeadas por obras marcantes que, em nós, serão eternas. Do gozo da leitura ao deleite de uma bebida. Vinho, café, não importa a viscosidade nem a acidez. O sentido é fazer com que um encontro mexa com todos os nossos sentidos.

Decidimos escrever. Pra nós, primeiramente. Precisávamos dizer. O grito já estava prestes a sair, só precisávamos de uma mão (ou várias) para aparar o rebento. E tivemos. Melissa Ourives, Raquel Barreto, Janara Lopes, Patrícia Cacau e Marina Marino contribuíram para o nascimento da obra. Publicar, tornar público, jogar no mundo foi uma escolha consciente. E é com muita alegria que me uno a vinte e seis autoras que vão celebrar a conquista da publicação. Amanhã, quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, na Biblioteca Pública Estadual do Ceará, haverá o lançamento, às 18h.

Gravei um episódio especial com as representantes do grupo. Ao redor da mesa do podcast, apenas quatro cadeiras, mas elas trouxeram um grupo inteiro nas palavras cheias de gratidão.   Confere no Youtube, no canal “Cafezim com Literatura”.

Melissa Ourives, eu, Raquel Barreto e Patrícia Cacau

Spoiler

 Decidi dar spoiler por aqui.

Compartilho com vocês agora o meu texto que faz parte da coletânea.

Confere aí!

Mulheres, livros e vinhos

Hummmm! Acho que é o primeiro pensamento ao ouvir o nome do nosso

grupo. Pensamos nesse tripé como contemplação, diversão, tempo livre e

hobby. Porém, juntar esses três elementos sensoriais tão significativos

Mulheres, Livros e Vinhos exige muito.

Mulheres…

No plural, aglutinação. Talvez a primeira palavra que você tenha pensado foi

em barulho, ou, no bom cearensês, zoada. Aí nessa hora sempre lembramos

os velhos ditados “Onde tem muita mulher junta…”. Sim, temos uma voz e

muito a dizer. Já entendemos que o calar deve ser uma escolha nossa e não

uma imposição dos outros. Em seguida, você pode até pensar em mais um

clichê. “Eita, deve ser um desfile de roupa, cada uma querendo ser melhor que

a outra”. Mais uma vez te explico que nós, mulheres, mudamos, estamos no

processo, trilhando um novo caminho possível e mais leve. Se, por um instante,

ousamos escorregar e pensar como as que vieram antes de nós, que seremos

eternas competidoras, não conseguiremos parar para pensar que somos parte

de um todo, de um grande todo. Afinal, as marcas do sutiã apertado (seja pra

aumentar ou pra sustentar) estão em todas nós. Existem muito mais coisas que

nos unem do que destoam em nós, dentre elas, a culpa.

Quando não vou ao encontro do mês, me culpo por não ter conseguido dar

conta de tudo e esse tudo compreende minhas responsabilidades diante dos

meus desejos. Aí nessa hora, infelizmente, recorro a um ditado que minha mãe

dizia e que eu gostaria muito de ter esquecido. “Você não é todo mundo” e

“Querer não é poder”, atualizado com sucesso pela Rainha Xuxa “E quem não

quer?!”. Pois é, eu quero e quero muito, quero tudo, quero abocanhar o mundo.

Quero o que minha avó nem ousou tentar, quero o que minha mãe tentou, mas

não conseguiu e quero mais do que a minha irmã, que me abriu caminhos,

realizou. Quando consigo ir ao encontro, percebo que esse querer é múltiplo, é

grito engasgado, entalado, cheio de garra e também de certezas. É voz que

incomoda. Sabia que, uma vez, tivemos que sair de um bar/restaurante na

Aldeota onde o encontro já estava estabelecido (com antecedência)

simplesmente porque haveria uma transmissão de um jogo naquele salão e o

gerente não lembrava. Tivemos que ir para outro espaço, mas sob protestos.

Pra mim, aquele lugar que passo quase todos os dias (na porta, pois nunca

mais entrei), ficou marcado negativamente nas minhas memórias e na minha

lista mental de “lugares onde não mais irei”.

Livros…

Ahnnn os livros. Material subversivo, outrora queimado, símbolo da supressão

da liberdade de expressão e pensamento, representando a opressão, a

censura e a tentativa de apagar o conhecimento, a cultura e a história. Físico,

com tudo o que ele pode proporcionar, inclusive a embriaguez. Quem nunca

deu uma fungada nas páginas antes de deliciar-se com o seu conteúdo? Tem

quem se ofenda ao ver um livro seu todo marcado, grifado, com anotações e,

pior, com a página virada (pela ausência de um mísero marcador), um pequeno

delito literário para alguns apegados. E em tempos de modernidade, o digital,

como uma biblioteca na palma da mão, com muitos títulos e sem poeira, sem

trabalho pra limpar.

Em 2022, publiquei minha primeira obra, quanta coragem! No começo, pensei

em um livro pra ninguém ler, depois, quis que ele ganhasse o mundo. Já

compreendia que os grupos de leitura dão um grande impulso aos autores

independentes. E adivinhem só qual foi o primeiro grupo que me acolheu,

nesse mesmo ano de lançamento? O Mulheres, Livros e Vinhos proporcionou

uma leitura coletiva do meu livro de crônicas “Não Preciso ser Fake”. Ganhei

abraços (muitos) e palavras de incentivo. Naquele dia, eu vi mulheres, até

então desconhecidas e, ao mesmo tempo, tão íntimas (pois tinham tido contato

com a minha nudez literária) sorrirem e se alegrarem por um feito meu. Foi um

carinho genuíno e inesquecível. Entendi que, quando uma de nós conquista

algo, abre-se um portal para todas e eu tive a oportunidade de retribuir essa

celebração com outras, com tantas, com Anas, Erilenes, Lucianas, Manuelas,

Dauanas, Laras, Kellys, Tatianas, Polianas, plurais.

Vinhos…

Tinto ou branco? Com álcool ou sem (pra voltar dirigindo)? Suave ou Seco?

Uma desculpa ou motivo? Em nossa confraternização natalina, tomei metade

do Jolimont da Dalila, (sim, partilhamos de um tudo neste grupo, as dores e as

delícias). Naquele dia, celebrei tudo o que podia. Vi-me fermentar.

Mirelle…

Sim, sou como vinho: complexa, sensorial, resultado de muitos processos

(dolorosos, às vezes). Posso me modificar com as mudanças climáticas

(inclusive as de dentro) e os processos químicos que me pertencem. Sou água,

açúcar e álcool, em diferentes proporções. Posso evaporar se não houver zelo,

posso virar vinagre quando exposta ao que não me faz bem, mas aprendi a

amar até a minha viscosidade. Posso estar na temperatura do ambiente ou na

minha ideal. Harmonizo bem com a Vida e, como diz o livro da escritora

brasileira, Liana Ferraz, tenho sede de me beber inteira.

Tin tin!

Lançamento da coletânea Mulheres, Livros e Vinhos – Primeira safra: doses de confidências

18 de dezembro, quinta-feira, 18h
Local: BECE – Biblioteca Pública Estadual do Ceará @bece_bibliotecaestadualdoceara
Av. Leste Oeste, 255 – Praia de Iracema

Realização: Clube de Leitura Mulheres, Livros e Vinho @mulhereslivrosevinhos

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (1)

  • Querida Mirelle,
    Que texto mais precioso!
    Tem, inclusive, um trecho que resume exatamente a potência do nosso grupo (MLV): "sim, partilhamos de um tudo neste grupo, as dores e as delícias." Nossa força está exatamente no grupo/no coletivo.
    Rótulos (clube de leitura? rede de apoio feminino? grupo de escritoras?), definitivamente, não nos definem. rsrsrsrs. Somos imparáveis!
    abs carinhosos,
    Raquel

Esse website utiliza cookies.

Leia mais