“O TJA segue sem convocatória de música, sem equipamentos adequados, sem pianos em condições de serem utilizados, um deles roído por cupins, em uma metáfora dolorosa da realidade da política cultural no Ceará”, aponta o jornalista e músico Dalwton Moura
Confira:
Que os que acham que está tudo bem na política cultural no Ceará perdoem a franqueza, mas não há justificativa capaz de dar conta do porquê de nosso Estado não contar com uma orquestra devidamente mantida e respaldada pelo poder público municipal e ou estadual, com professores concursados, temporada definida, política de formação, orquestra jovem, espaço adequado de ensaios e apresentações, intercâmbio, excelência, piano que não seja roído por cupins no principal teatro do Estado… Não há por que justificar a continua necessidade de um êxodo de nossos músicos para a Paraíba ou para outros estados que dedicam seriedade a essa ação.
É absolutamente chocante, pra dizer o mínimo, assistir em João Pessoa, em plena Quinta-Feira Santa, a uma apresentação lotada da Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba. Apenas uma das várias formações existentes e mantidas com responsabilidade e investimento.
Há uma orquestra só de crianças e jovens, para a qual um músico cearense prepara arranjos. Há a Sinfônica principal. E outras formações.
É sinal de graves deficiências de nossa política cultural, a mesma propalada aos quatro ventos por alguns que fazem parte das gestões, e ainda mais em eventos fechados a eles mesmos, debates sobre política cultural com difícil participação da sociedade civil, a quem a política cultural se destina ou deveria se destinar, como se fosse “referencial para o Brasil”. Mas por que então enfrentamos tantas dificuldades da fronteira de nosso Estado para dentro? Por que lutamos tanto ainda, em 2025, para buscar o que há décadas deveria ser um direito básico dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura e de toda a população?
Ficam as reflexões e o desejo de mudanças. Temos um Plano Estratégico de Difusão e Desenvolvimento da Música do Ceará, que traz inúmeros itens transversais a outras linguagens, aguardando por respostas e ações desde junho de 2022. A Estação das Artes foi inaugurada sem a Sala de Música que constava do projeto original, e ninguém nunca explicou o porquê. O TJA segue sem convocatória de música, sem equipamentos adequados, sem pianos em condições de serem utilizados, um deles roído por cupins, em uma metáfora dolorosa da realidade da política cultural no Ceará. Enquanto alguns fingem estar tudo bem. Não, não está. Ainda estamos aqui, batalhando por melhorias. Que elas venham, com urgência. Nosso povo merece. Nossa cultura pode mais. Nossa cultura pede mais…
Dalwton Moura é jornalista, músico e compositor
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Perfeito!