“Foram mais de cem pessoas, deitadas lado a lado, o colorido das roupas em movimento na foto. Todos tinham mãe. Daí que importa muito”, aponta a jornalista e escritora Tuty Osório
Confira:
São 13 luas na carapaça multimilenar da tartaruga. Conhecimento que não deveria ter se perdido, ensina a amiga Marta, sem intenção de doutrinar que ela não é dessas. Porém, possui a autoridade da confiança. A que carrega e a que inspira. Gratidão, Martinha. Por esse resgate numa semana tão triste. Foram mais de cem pessoas, deitadas lado a lado, o colorido das roupas em movimento na foto. Todos tinham mãe. Daí que importa muito. Paralisados pela abominação. Foi dito, no passado, que o mal viria banal. Podemos dizer, ao presente, que seguimos apesar de Gaza, a despeito da Serra da Misericórdia, da floresta ucraniana que ladeia a trilha na qual o repórter corre carregando ao colo uma criança ferida? Deveras, podemos?
Tanto assunto pra falar e escolho justo este. Pois é… Não dava para fingir de conta. Já estamos alheios demais, por tempo demasiado, para simplesmente ter outro assunto, e temos. Para todos os modelos. A tarde em Fortaleza está de arrasar de linda, um céu que é uma pintura, um sol que é uma oração. É até pecado que não devamos ficar, simplesmente, felizes. Não pelo desperdício da felicidade. Mas porque é impossível ignorar as mães dos filhos e os filhos daquelas mães. Por quem rezaram para que ficassem livres de todo o mal. Por quem choram hoje, neste hoje de céu tão céu, de sol mais estrela que jamais.
Quantos são hoje, é o inicio da tábua dos passos que nos levarão ao início do verão. Depois chegará o Natal, os nossos nunca esquecidos, os outros nem tanto, nem bem assim. A mesma praça, as mesmas redes decorativas erguidas num desenho nada lógico, porque pretensamente mágico e inegavelmente belo a simbolizar a árvore da anunciação. Será mais um dezembro com encontros de corais nas esquinas das regiões centrais das cidades, uma noite enfeitada com Autos e luzinhas piscantes, o nosso coração a cada ano mais apertado. Porque lá fora, com , ou sem frio, a rua está cada vez mais coalhada de pequenas vendedoras de fósforos
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.