Com o título “Que presente para os 300 anos de Fortaleza?”, eis artigo de Luiz Carlos Diógenes de Oliveira, diretor de Cidadania e Cultura da Fundação Sintaf. “Que melhor presente de aniversário, para os 300 anos de nossa Cidade, do que reavivar, para seu povo, além do atestado legal de nascimento, o tempo histórico guardado em documentos legais e cartográficos, trazendo ao conhecimento popular as marcas que restam da Fortaleza-criança, a fim de melhor entendê-la, hoje, a Fortaleza-adulta?’, expõe o articulista.
Confira:
Nunca é demais repetir que o desconhecimento da história condena um povo à permissão e continuidade de barbáries efetivadas. As comemorações emblemáticas de aniversário de Fortaleza, uma metrópole, por seus 300 anos em 2026, data simbólica, por mais apoteóticas que sejam, serão sempre deficitárias de legitimidade, se seu povo, maior implicado, ignorar sua história, sua origem. Saber quando nasceu não é ainda saber o porquê e o como nasceu. E mais distante ainda como viveu, em que situação multifacetada se encontra e aonde deseja chegar.
A memória ativa(da), crítica, intertemporal, além do conhecimento histórico do lugar em que se vive – e do registro de nascimento, autenticando a idade, ativa um senso de pertencimento, um querer bem ao lugar, um orgulho ontológico de ser, tendo uma personalidade única, coletiva. O espírito do Ceará moleque, a vaia cearense exemplificam o regionalismo universalismo e pervagam pelo Mundo globalizado.
Que melhor presente de aniversário, para os 300 anos de nossa Cidade, do que reavivar, para seu povo, além do atestado legal de nascimento, o tempo histórico guardado em documentos legais e cartográficos, trazendo ao conhecimento popular as marcas que restam da Fortaleza-criança, a fim de melhor entendê-la, hoje, a Fortaleza-adulta? Se o projeto civilizatório desenvolvido, mormente a partir da segunda metade do século XX, tentou enterrar seu berço de nascimento, na foz do Riacho Pajeú, o projeto ecológico divino não permite a completa efetividade de tal apagamento.
As inundações no entorno da foz do riacho, a cada chuva mais demorada em Fortaleza, denunciam crimes históricos e ecológicos cometidos, e nunca reparados. Festejar Fortaleza em seu aniversário de 2026 remete à ousadia de jurisdicionar o tempo histórico ido, analisar o projeto civilizatório cultivado, refletir, ética e ecologicamente, sobre a governança dominante, hegemonicamente escorada em paradigmas ecocidas. O crescimento econômico, sem desenvolvimento socioambiental, e a cultura patrimonialista usurpadora de bens públicos e naturais, continuam a apresentar o Riacho Pajeú, em seus menos de 5 km de extensão, como um problema para a metrópole civilizada. A foz do riacho que atraiu o Forte, e seu conjunto de vida interdependente, contrariamente, deve ser resgatado como solução socioambiental de uma metrópole que esconde e nega a sua origem.
A Fundação Sintaf, de Ensino e Pesquisa, entidade dos fazendários cearenses, servidores públicos, atenta às políticas desenvolvimentistas do Estado socioambiental, delineado na Constituição Federal de 1988, sente-se no dever de refletir e contextualizar o passado cearense. O passado não se vai enquanto suas mazelas assomarem no presente, como fantasmas ameaçadores da sustentabilidade socioambiental e do pacto intergeracional.
Nesta pisada (anti)ecológica, que futuro teremos? Pensando assim, a Fundação Sintaf encetou dois projetos e programas de resgate da memória de fenômenos histórico-culturais, que nos orgulham de sermos cearenses e fortalezenses: o primeiro, em curso, trata-se das revoluções, no Ceará, de 1817 a 1824, por ocasião do Bicentenário da Confederação do Equador em 2024, o que já rendeu três Audiências Públicas da ALECE; dois documentários disponíveis na internet; uma peça de teatro; uma exposição itinerante de 22 telas, enfocando a heroína cearense de coração Bárbara de Alencar; o segundo projeto/programa, “Pajeú Redivivo”, quer se apresentar, agora, como proposta de resgate da memória do berço histórico de Fortaleza, por ocasião do tricentenário, em 2026.
*Luiz Carlos Diógenes de Oliveira
Diretor de Cidadania e Cultura da Fundação Sintaf
lucadiogenes@hotmail.com
Uma resposta
Este trecho merece ser repetido e divulgado amplamente:
O crescimento econômico, sem desenvolvimento socioambiental, e a cultura patrimonialista usurpadora de bens públicos e naturais, continuam a apresentar o Riacho Pajeú, em seus menos de 5 km de extensão, como um problema para a metrópole civilizada. A foz do riacho que atraiu o Forte, e seu conjunto de vida interdependente, contrariamente, deve ser resgatado como solução socioambiental de uma metrópole que esconde e nega a sua origem.
E aproveito para lembrar que diversos riachos e lagoas também foram aterrados e considerados problemas em diversos bairros de Fortaleza.
Infelizmente será difícil o resgate, mas aproveito para copiar o que sempre foi defendido por ELIOMAR: chega de operações TAPA-BURACOS.
Fortaleza merece um plano para drenagem correta, tecnicamente, para que tenhamos pavimentos resistentes, cabendo lembrar que a solução de TIJOLINHOS comprovou ser uma boa solução.