Com o título “Quem cuida está adoecendo: a verdade sobre a saúde que ninguém quer ouvir”, eis título de artigo de Martinha Brandão, diretora do Sindsaúde do do Estado do Ceará. “(…) servidores da saúde enfrentam anos de espera por direitos básicos, como as ascensões funcionais”, expõe a articulista.
Confira:
Neste Dia Nacional da Saúde, celebramos algo essencial, mas esquecemos quem a torna possível. Por trás de cada atendimento, de cada cuidado prestado, existe um exército de trabalhadoras e trabalhadores invisíveis, adoecidos e desvalorizados.
A frase “cuidar de quem cuida” tem sido amplamente repetida. Mas entre o discurso e a realidade, há um abismo — preenchido por exaustão, baixos salários e abandono institucional.
Falo de quem sustenta a saúde no Brasil: profissionais da enfermagem, agentes comunitários de saúde e de endemias, profissionais da saúde bucal, motoristas, recepcionistas, maqueiros, copeiras, servidores públicos, dentre outros. Falo de quem trabalha nos hospitais públicos, nas unidades privadas, nas cooperativas e nos serviços terceirizados. De quem não tem hora, mas carrega nas costas o funcionamento de um sistema inteiro.
No Ceará, esse colapso silencioso tem rosto e nome: servidores da saúde enfrentam anos de espera por direitos básicos, como as ascensões funcionais. Muitos processos estão travados, outros, simplesmente ignorados. A sobrecarga é visível: equipes reduzidas, profissionais acumulando funções e sendo esquecidos pela gestão. Em Fortaleza, a realidade também é grave — faltam profissionais, os salários estão defasados e o modelo de gestão tem levado os trabalhadores ao esgotamento. As “cooperativas”, travestidas de solução, escondem a precarização: jornadas abusivas, contratos frágeis, ausência de direitos e adoecimento crescente.
No setor privado, o cenário não é melhor. Empresários lucram alto enquanto profissionais enfrentam jornadas exaustivas, salários baixos e condições indignas. A lógica do lucro se impõe sobre o cuidado, deixando quem trabalha à mercê do cansaço e do esquecimento.
A saúde, pública ou privada, está sustentada por pessoas exaustas, mal remuneradas e invisibilizadas. E a conta não fecha: como oferecer cuidado de qualidade com profissionais adoecidos?
É urgente virar essa chave. O que precisamos é de uma política séria de valorização: concursos públicos, reajustes reais, condições dignas de trabalho, respeito aos direitos e o fim da precarização em todas as suas formas.
Neste 5 de agosto, mais do que celebrar, é preciso denunciar. Saúde de verdade só existe quando quem cuida também é cuidado. Ignorar isso é empurrar todo o sistema para o limite do colapso.
Que este seja um chamado à sociedade e aos gestores: ou cuidamos de quem cuida, ou seremos cúmplices da falência da saúde.
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*Martinha Brandão
Diretora do Sindsaúde Ceará.